segunda-feira, 27 de julho de 2009

Quando a PM falha a Rotam entra em ação

Sub-comandante do batalhão demonstra até que ponto a Rotam é diferente do Bope
Por Juliana Marton


Trajado com sua imponente farda negra, entra o capitão André Avelar de Souza para a concessão da entrevista. Acompanhado pelo policial Gilberto de Queiroz Gomes, que porta uma sub-metralhadora e se porta como um guarda-costas (o tempo todo com uma expressão de repreensão no rosto), o capitão senta-se e aguarda o início da coletiva, o outro permanece em pé. Apesar de novo, 36, o capitão já é sub-comandante do batalhão de Rondas Ostensivas Táticas Metropolitanas (Rotam). Com quase 17 anos de trabalho na Polícia Militar de Goiás, André está na Rotam há uns 20 dias, embora tenha trabalhado na corporação anteriormente. Além da formação no curso de oficiais, ainda é formado em Direito. Com base no filme Tropa de Elite, capitão André diz que foi, em alguns aspectos, positivo para a polícia, e explica, com a ajuda do policial e motorista Gilberto, que está na Rotam há 11 anos, algumas ações da tropa que, vez ou outra, acarretam em desentendimentos com a população.



O sub-comandante da Rotam, diz que o filme Tropa de Elite foi o primeiro a retratar a realidade do policial, e que nesse sentido ele vem sendo muito positivo para a Polícia Militar. Apesar disso, acha que o personagem de Wagner Moura, o capitão Roberto Nascimento, é interpretado de forma indevida pela sociedade, afinal ela o transformou num herói nacional. “Eu não entendo o filme como positivo em relação à sociedade tratar o capitão Nascimento como um herói. Nós vimos o filme como positivo por ele mostrar uma realidade que é escondida”, afirma.
Ele insiste que a realidade da corrupção mostrada no filme é a da PM do Rio de Janeiro e que isso não se estende aos demais estados - pelo menos não ao de Goiás. O filme “dá o entendimento de que na PM do Rio de Janeiro apenas o Batalhão de Operações Especiais (Bope) não é dado à corrupção”, diz André. No Bope, segundo ele, não é aceitável de modo algum qualquer tipo de corrupção, e o mesmo acontece aqui no batalhão da Rotam.
O capitão coloca ainda que, o mito que existe ao redor da Rotam, de que ela seja violenta, tem um fundo de verdade, pois não pode dizer com certeza que os policiais pelo menos uma vez não tenham agido de maneira equivocada, “usando de uma força excessiva”, como pontua. No entanto, pensa que o temor da sociedade em relação à corporação está tornando-se menor, graças a atividades desenvolvidas pela PM em todo o estado. Mesmo assim, admite que até os criminosos, termo que usa o tempo todo para se referir aos suspeitos, não têm respeito pelo batalhão, senão medo. Coloca ainda que, a Rotam age de acordo com o que a lei prevê para a polícia, “Nós trabalhamos dentro da legalidade. Se a lei não nos ampara a agir de determinada forma, nós não agimos assim”.
O treinamento da equipe em muito se equipara ao do Bope, mas não acontece exatamente do modo como foi mostrado em Tropa de Elite. “O nosso treinamento também é bastante exigente, do ponto de vista físico, psicológico, intelectual e técnico”, conforme afirma. Todavia, durante toda a entrevista, repete que algumas das situações mostradas ali não deveriam ter vindo a público, pois revelam ao criminoso do que as equipes de operações especiais são capazes quando em situações extremadas.
As corporações ainda são análogas no sentido de que entram em cena quando a tropa convencional, ou seja, a PM falha, ou, na linguagem do filme, “não dá conta do recado”. “Existem ocorrências mais complexas, que envolvem a criminalidade mais pesada, que acontecem aqui em Goiás, em especial na região metropolitana. Estas ocorrências são resolvidas pela Rotam”, afirma. Mesmo assim, antes de tudo, são todos policiais da PM, e como tal recebem o mesmo que os demais, e trabalham de acordo com as regras da instituição.
Capitão André acrescenta que concorda com a visão apresentada de que os estudantes (acho que falar apenas estudantes restringe muito o universo de usuários, que deveria ser a palavra empregada) financiam o tráfico de drogas. “Pra mim é uma profunda hipocrisia por parte do usuário. Não interessa a mim, como força policial, discutir se a maconha deve ser legalizada. Como ela não é, compete a nós combater esse tipo de ação”. E coloca que a classe média hoje é uma fonte de hipocrisia, pois é condescendente com o usuário de drogas, e acaba sendo-o também com o traficante.
Ainda há a questão do sigilo da identidade profissional dos policiais, que André considera muito importante, afinal “não queremos nunca, qualquer que seja, estar andando em nossos veículos à noite e de repente dois ladrões apontarem uma arma, nos renderem, pegar a carteira e ver que somos policiais”, pontua. Não é como no Rio de Janeiro, porque lá o perigo é muito maior, conforme diz, mas é necessário que haja essa precaução.

Texto elaborado em Novembro de 2007.

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