segunda-feira, 27 de julho de 2009

Publicidade não é o problema

O mais novo diretor goiano fala da diferença entre publicidade e poluição visual
Por Juliana Marton


Apesar da pouca experiência com cinema, Caio Henrique Salgado Barbosa, através da disciplina de Audiovisual, iniciou sua carreira como diretor e roteirista. Seu primeiro filme, um curta-metragem chamado “Vênus de Millus”, foi selecionado para a III Mostra Goiana de Vídeo Independente, realizada no ano de 2006. Agora, Caio foi mais longe, com o curta “Além dos outdoors”. Produzido a partir de uma idéia surgida em sala, o documentário leva à reflexão sobre a poluição visual instaurada no centro da cidade. O projeto do filme foi contemplado pelo Concurso de Roteiros da 2º Edição do Festcine Goiânia, o que possibilitou sua gravação. Ainda foi inscrito no Festival Internacional de Vídeo Ambiental (Fica), e premiado como melhor produção goiana.



Caio Henrique, o mais novo diretor premiado, diz que, publicidade, se bem dosada, não é uma fonte de poluição visual. Acha que deve, sim, haver uma legislação que regulamente a propaganda. No entanto, esta não deve ser erradicada, afinal “é lógico que é muito difícil pensar hoje em dia na não existência deste tipo de comunicação, é uma coisa impensável”, como coloca. Apesar do filme apresentar somente uma versão, a de quem não concorda com a publicidade feita hoje em dia no setor Central, Caio não acha que por isso o documentário não provoque uma discussão. Diz que, a intenção do filme não é mostrar duas versões, o que no jornalismo é indispensável, mas, finalmente, mostrar a opinião daqueles que vivem o problema cotidianamente.
Concorda que, realmente, seria favorável ao documentário possuir a opinião de profissionais de outras áreas, como da própria publicidade, mas diz, também, que a proposta do curta não é essa, mesmo que tais profissionais tratassem da questão do mesmo modo com que o filme trata. Além disso, pensa que uma pessoa que se proponha a estudar por quatro anos, às vezes até mais, não tenha orgulho de “mostrar um ‘cinqüenta centavos’ gigante vermelho com amarelo tampando o prédio inteiro”. Pensamento, este, que perdura na discussão a respeito do impacto ambiental causado pelo Festival Internacional de Cinema Ambiental (Fica) na cidade de Goiás, o qual, segundo ele, é enorme e muito prejudicial.
Mesmo confirmando a contradição que há num festival que discute a temática ambiental causar danos ao local que o abriga, no caso, uma cidade eleita como Patrimônio Histórico da Humanidade, Caio justifica dizendo que, nem todos os que freqüentam o evento estão interessados na temática proposta ou nas mostras de documentários, senão, nos shows feitos durante o festival. Além disso, afirma que, mesmo causando um grande estrago, o festival ainda não tem um alcance real, pois é, na verdade, um evento em que a maioria das pessoas participantes é da comunidade universitária. Sendo assim, não traz esclarecimento aos próprios moradores da cidade. Afirma que, foi nesta edição do Fica que as discussões a respeito da temática ambiental começaram de fato. “Esse ano que ele (Fica) tomou um outro lado, teve até um fórum a respeito da Amazônia. Antes o festival era mais ligado à questão do cinema, os filmes eram ambientais, no entanto, as discussões eram mais voltadas ao cinema em si”, afirma.
O filme traz a temática da poluição visual bem tratada, mas o foco é a questão da arquitetura da cidade, que está escondida atrás de tantas propagandas. Com o auxilio eminente do projeto Caras Limpas, foi que o filme seguiu o projeto original. Segundo Caio, as filmagens chegaram a distanciar-se algumas vezes, porém, no final ficou bem parecido com a proposta original. Ainda se percebe que o documentário não traz uma possível solução para o problema, o que para Caio não foi uma falha, pois a intenção da produção era somente apresentar o problema e deixar em aberto uma discussão, que acarretaria em prováveis soluções, o que recentemente aconteceu. Ele nunca acreditou muito no alcance real de seu curta, no entanto foi surpreendido quando um funcionário da Câmara Municipal o contatou e disse-lhe que seu filme seria utilizado numa audiência a respeito dessa questão ambiental.
O projeto que partiu de um vereador já alcançou um tamanho relevante e conseguiu também o apoio de outros políticos como Elias Vaz, que têm ajudado muito nesse ponto. O vídeo será exibido numa audiência na Câmara Municipal, e funcionará como uma espécie de argumento para a votação de um projeto de revitalização do Centro. “Nesse ponto, ele pode chegar a algum lugar”, acrescenta. Todavia, Caio acredita que o filme não tem o impacto que deveria ter, afinal as pessoas que têm contato diário com a situação são comerciantes, e este, mesmo que o filme seja exibido gratuitamente no Cine Ouro, que a propósito localiza-se no setor Central, não pára para assisti-lo, e deste modo não reflete sobre a situação a que se submete.

Texto elaborado em Novembro de 2007.

Nenhum comentário: