RESUMO
A proposta desta pesquisa é examinar, do ponto de
vista do que é oferecido pelo cinema, de que forma os profissionais de relações
públicas podem ser vistos pela opinião pública. A perspectiva de análise
escolhida, com fins de delimitação, vez que se trata de um Trabalho de
Conclusão de Curso, foi a ética. Por exercerem uma função que pode implicar em
situações de crise e, também, por serem especialmente importantes no processo
de tomada de decisões frente às ações que serão levadas à opinião pública, os relações-públicas
estão sujeitos a vários dilemas. Por essa razão, por meio da análise fílmica de
quatro obras relevantes para o cinema, esta pesquisa dedicou-se a verificar os
padrões comportamentais com os quais os relações-públicas são identificados na
telona.
Palavras-chave:
Relações Públicas, Cinema, Ética, Estereótipos
ABSTRACT
The purpose of this research is to examine, from the
point of view of what is offered by the cinema, how public relations
practitioners can be seen by the public. The chosen analytical perspective,
gated purposes, since it is a Final Paper, was ethics. For exercising a
function which can result in crisis situations and also by being especially
important in front of decision-making to the actions that will be taken to
public opinion, the public relations are subject to various dilemmas. For this
reason, through film analysis of four relevant works for the cinema, this
research is dedicated to examining the behavioral patterns with which public
relations are identified on the big screen.
Keywords:
Public Relations, Cinema, Ethics, Stereotypes
INTRODUÇÃO
O cinema surgiu como uma forma de entretenimento
baseada no espanto, nas palavras de Ben Singer (2004). Advento da modernidade
que se manifestava, principalmente, na “sensacionalização” do divertimento
comercial expressada no melodrama teatral, sobretudo. Mas, não foi aí que o
aparato cinematográfico se firmou. Apesar de ainda preservar a questão do
suspense como tônica da diversão que proporciona, a principal característica
que garantiu ao cinema sua ascensão como arte urbana foi a ilusão da verdade
que oferecia ao público. Afinal, a busca pela reprodução da realidade sempre
foi um sonho, e a imagem em movimento permitiu que isso ocorresse, em certa
medida.
A Sétima Arte, no entanto, não ficou só iludindo. Com
a adaptação da narrativa literária para si, o cinema virou uma verdadeira
fábrica de contar histórias. E, se uma imagem fixa já falava mais do que mil
palavras, quanto mais a imagem em movimento traria ideias, afloraria emoções e
permitiria sensações nunca antes experimentadas. O cinema trouxe
possibilidades. Aonde mais um trabalhador simples poderia conhecer lugares
exóticos sem precisar viajar para fora do país? Talvez, atualmente, seja até
mais fácil realizar tal feito, devido à globalização e tudo o mais, mas no
início do século XX esta era uma grande façanha que encantou a população
mundial e garantiu ao cinema seu posto como nova forma de lazer.
Para criar histórias mais e mais realistas, o cinema
não hesitou em importar aspectos comuns da vida social. Por isso, etnias,
culturas, idiomas, economia, tradições, tecnologia, entre outros marcadores,
passaram a fazer parte do universo narrativo cinematográfico. A cada novo
filme, as personagens apresentavam mais traços que permitiam essa identificação
da plateia. A exploração de várias dimensões da vida na telona garantia que o
público se visualizasse, aumentando ainda mais o interesse pela arte da
imitação. Como era de se esperar, o universo do trabalho não ficou de fora.
Profissionais das mais variadas áreas foram representados na tela, incluindo os
relações-públicas.
O cinema ganhou um caráter educativo, também. Por
trazer tanta novidade, disponibilizou informação para quem antes não poderia
ter acesso a ela. O que inclui o conhecimento não só espacial-geográfico, mas
também histórico e social. Muitos passaram a conhecer determinados temas através
do aparato cinematográfico. É importante ressalvar que o cinema, não reproduz a
realidade, apenas dá a impressão de que o faz. Mas, não se revela assim. Pelo
contrário, lança o seu olhar na tela como se fosse o do próprio espectador,
ocultando-se por trás do público. Isto gera, de acordo com Ismail Xavier
(2003), a identificação do olhar do mediador com o do público. “Espectador de
cinema, tenho meus privilégios. Mas, simultaneamente algo me é roubado: o
privilégio da escolha” (XAVIER, 2003, p.36).
Como representação do real, o cinema faz escolhas.
Abordagens, perspectivas, angulações, encenações: tudo faz parte do aparato e
se apresenta segundo um discurso, um ponto de vista, uma ideologia. Mesmo que
exposto na tela, um costume não é aquilo que se vê, realmente. Assim como uma
etnia encenada, não passa de uma imitação. Uma ilusão realista. Por não ter a
capacidade de aprofundamento dos traços e características de suas personagens,
o cinema vale-se de estereótipos. Positivos ou negativos, apresentam-se como a
única forma de representar uma categoria, classe, etc. Pois, os estereótipos
são nada mais do que essa simplificação das identidades a que todos estão
submetidos e que permitem o conhecimento prévio de algo ou alguém, como escreve
Baccega (1998).
Quando isso é exposto na telona, portanto, o cinema
extrapola o campo do entretenimento, tornando-se uma ferramenta de
descobrimento, conhecimento e propagação de informação, sejam estes reais ou
não. Se o espectador não conhece determinado fato que lhe é apresentado na
sala, aquilo passa a fazer parte do seu saber, contribuindo para a construção
de um imaginário coletivo. A imagem construída na tela é, assim, educativa.
Para investigar a constituição dos relações-públicas por meio da Sétima Arte é
que esta pesquisa foi conduzida. A partir da análise de quatro filmes que
trazem a profissão como pano de fundo, verificou-se a forma como o profissional
da área é representado, com fins de reflexão sobre o impacto da intervenção do
cinema na construção desta imagem.
Como justificativa para tanto, lança-se mão do
argumento apresentado por Cabezuelo e Peinado, que afirmam ser uma investigação
importante, vez que, para muitas pessoas conhecerem as práticas de RP, “sobram
apenas a Internet e o cinema mais comercial como elementos educativos e
informativos de massa com uma certa relevância" (2014, p.53). Isso
considerando a ausência de outras fontes informativas com facilidade de
identificação e acesso pela população. Além disso, como afirmam, o cinema feito
em Hollywood, especificamente, possui uma capacidade grande de impacto
cultural, “graças à sua agressiva rede de distribuição e ao volume de produção
de filmes com a de outros países" (ibid).
Outro elemento motivador é o fato de que, por serem
uma atividade relativamente nova, as Relações Públicas enfrentam em si mesmas
uma dificuldade de definição, problema apontado por Andrade (1993). A falta de
concordância sobre as funções de RP implica na não consolidação de uma
identidade comum entre os profissionais, o que pode atrapalhar a formação da
representação social que permearia o imaginário coletivo. Por essa razão, a
contribuição da mídia e seus produtos tem sido um constituidor influente na
construção dos estereótipos que precedem a atividade, assim como todas as
demais áreas do conhecimento. A encenação na tela, então, coloca a profissão em
evidência. Mas, será esta a justa medida para as Relações Públicas? Para se
obter evidências que esclareçam esse processo, buscou-se analisar a profissão
dentro da produção cinematográfica, por meio de suas personagens. Com o intuito
de não se criar uma variedade tal de informações, concentrou-se no aspecto
ético, considerado um dos pilares das RP.
2
QUEM É E O QUE FAZ?
2.1
Teorizando: história e funções das Relações Públicas
A atividade de Relações Públicas pode ser verificada
em várias manifestações ao longo da história. Intimamente ligada à questão da
opinião pública, nota-se a presença dessas manifestações desde a Grécia antiga,
onde a escolha de senadores e outros mandatários era feita por meio da
deposição das cascas de ostras em urnas, passando por Roma, quando Pôncio Pilatos
pede à multidão que opte entre Jesus e Barrabás, e nos Estados Unidos, com a
clássica declaração do então presidente Abraham Lincoln: “Com a opinião pública
nada pode malograr; sem ela nada pode resultar bem”.
O surgimento da profissão, contudo, ficou marcado
pela declaração de William H. Vanderbilt, filho do comodoro Cornelius
Vanderbilt, que pronunciou a famosa expressão: “The public be damned”[1],
em 1882, e pela abertura do primeiro escritório de assessoria pelo jornalista
Ivy Lee, em 1906, em Nova Iorque. À época, no país, via-se o surgimento dos
monopólios que trouxeram a maior concentração de renda na mão de poucos e, com
isso, o descontentamento da classe operária. Com a industrialização em massa da
sociedade norte-americana nos anos 1800, surgiu também o movimento
sindicalista, que teve seu amadurecimento no final do século XIX.
Por essa razão, de acordo com Pinho, “o período
compreendido entre o final do século XIX e o início do século XX foi marcado
por mais greves” (2008, p.28). Vanderbilt, supracitado, era um dos grandes
empresários do ramo de estradas de ferro da época e sua famosa declaração, como
destaca Pinho (2008), denota o sentimento e o posicionamento dos monopólios
frente à opinião pública.
O
contexto histórico da sentença “O público que se dane” revela uma sociedade
atribulada pelas lutas, reivindicações e arregimentação da classe trabalhadora
que reverberava o slogan “proletários de todo mundo, uni-vos”, proclamado pela
Internacional Comunista e descrito no Manifesto Comunista (PINHO, 2008, p.32)
É nesse contexto que surge a necessidade do exercício
das Relações Públicas, vez que a cada dia as relações entre empresários e trabalhadores
tornavam-se mais conflituosas. Apoiado em Gurgel, Pinho explica que Ivy Lee,
jornalista e publicitário, em 1903, começa a escrever artigos como ‘press agent’, algo como “agente de
imprensa”, sugerindo uma atividade que forneça relacionamento entre as empresas
e seus públicos. A atuação do primeiro relações-públicas limitou-se à
representação de grandes magnatas da época, a começar de John Rockefeller, que
foi seu primeiro cliente. Sua orientação máxima era de que “o público precisa
ser informado”, e foi a partir desta guia que Ivy Lee atuou em diversos
escândalos empresariais, efetuando o meio de campo entre corporações e
públicos.
Já no século XX, as Relações Públicas ganharam mais
território, sendo acopladas à esfera governamental. Especialmente com o crack
da Bolsa de Valores de Nova Iorque, em 1929, o Governo dos Estados Unidos
precisou munir-se de todas as ferramentas possíveis para lidar com a população.
Os embates socialistas-capitalistas ganharam força e foi com a ascensão de
Franklin Delano Roosevelt à Casa Branca, e sua adoção de medidas direcionadas
ao manejo da opinião pública por meio do New
Deal, que os ânimos voltaram a se acalmar.
Foram
organizados os serviços de imprensa,
nos principais órgãos federais, somados à distribuição oficial de credenciais
aos redatores de jornais, dando-lhes todo o direito de ter acesso irrestrito às
informações dos órgãos públicos. As famosas “conversas ao pé do fogo”, através
da emissão semanal em cadeia nacional de rádio, era também uma forma do presidente
prestar contas da atuação do governo perante o povo americano. Houve ainda a
criação das press conferences, que
aconteciam, em média, 250 vezes ao ano; um trabalho que era complementado com a
intervenção dos chamados agentes
especiais, funcionários do governo destinados a esclarecer a opinião
pública através de contatos pessoais com os diferentes setores da sociedade
civil (PINHO, 2008, p.37-38)
Para o autor, esta época foi um marco para a
consolidação da profissão nos Estados Unidos e no mundo, já que as ações do
presidente Roosevelt não se restringiam apenas ao território norte-americano,
mas atingiam as demais nações com as quais o país mantinha relações, devido às
políticas internacionais adotadas pelo chefe do executivo. Com a incorporação
das práticas de Relações Públicas à esfera governamental, inclusive, o
investimento em cursos específicos para a formação de profissionais na área
tornou-se uma demanda real, iniciando-se, em 1934, “uma grande disseminação de
cursos de Relações Públicas nos Estados Unidos, fato que só veio a
fortalecer-se durante e após a segunda guerra mundial” (PINHO, 2008, p.39).
Apesar de mais de um século de existência, no
entanto, a profissão ainda pode ser considerada polissêmica em suas definições.
Kunsch (2003) posiciona a atividade como subsistema de apoio das organizações,
cujo objetivo é fortalecer o sistema institucional e promover sua interação com
os demais subsistemas. A autora baseia-se nas teorias elencadas por Ehling,
White e Grunig, chamadas essenciais das Relações Públicas, sendo elas a teoria
interorganizacional, a teoria de gerenciamento, a teoria da comunicação, e a
teoria de conflitos-resoluções, para apontar as funções da atividade, que são:
administrativa, estratégica, mediadora e política.
De acordo com Kunsch, “como função administrativa, as
relações públicas, por meio de suas atividades específicas, visam atingir toda
a organização, fazendo as articulações necessárias para maior interação entre
setores, grupos, subgrupos etc” (2003, p. 100). Esta função, desta forma,
enfatiza o caráter de comunicação dentro da organização, com o objetivo de
facilitar o diálogo entre as diversas instâncias que formam a corporação,
permitindo respostas mais efetivas ante as demandas que se apresentem.
Já no caso da função estratégica, Kunsch defende que
a mesma só pode ser exercida por meio do planejamento de relações públicas,
pois é mediante esta função que canais de comunicação são abertos na busca pela
confiança e construção da credibilidade das organizações. Por isso, a autora
considera que "pensar estrategicamente requer o conhecimento da
organização e de suas condições, aspirações e aportes técnicos e tecnológicos
para aplicá-las na prática e intervir no processo de planejamento e gestão
estratégica" (2003, p.241).
Tendo sua essência na promoção do diálogo, de acordo
com Kunsch, as Relações Públicas veem na função mediadora a efetivação de seu
cerne. Isso porque, como a autora escreve, “fazer as mediações entre as
organizações e seus públicos é uma função precípua de Relações Públicas, que
não podem prescindir da comunicação e do uso de todos os seus meios possíveis e
disponíveis” (2003, p.105). Todavia, como salienta, a função mediadora não se
trata, apenas de informar, “mas de praticar a comunicação no seu verdadeiro sentido
etimológico” (2003, p.105). Deste modo, esta função refere-se ao diálogo entre
organizações e públicos.
Por último, a função política está presente tanto na
resolução de conflitos, quanto no gerenciamento de crises. Kunsch (2003)
destaca que esta função “pressupõe negociações, estratégias de comunicação e
ações concretas para encontrar soluções de problemas que as organizações possam
ter no relacionamento com os públicos no ambiente social” (2003, p. 111). De
forma sucinta, a função política visa tratar de resoluções de impasses dentro
das organizações. Vale ressaltar, como a própria autora o faz, que o exercício
das Relações Públicas se dá, somente, quando todas as funções são contempladas
simultaneamente. Isso porque,
[...] as
funções essenciais de Relações Públicas aqui tratadas – a administrativa, a
estratégica, a mediadora e a política – não são instâncias separadas uma da
outra. Na prática, o exercício pleno da atividade requer a soma de todas, numa
interpenetração que ajude as organizações não só a resolver seus problemas de
relacionamentos, mas também a se situar de forma institucionalmente positiva na
sociedade (KUNSCH, 2003, p.117)
2.2
A questão ética na profissão
Do grego ethos
(bom costume), a ética sempre esteve intimamente ligada à moral. A diferença
entre os dois valores, entretanto, está no fato de o primeiro, baseado no
segundo, buscar de forma racional o melhor modo de viver e conviver
socialmente. Se a moral diz respeito a um conjunto de hábitos e costumes de
determinado grupo, cultura, etc, a ética transcende, uma vez que tem o objetivo
de universalizar normas comportamentais humanas para que a vivência em uma dada
sociedade seja harmoniosa para todos os indivíduos, tendo em vista que é
construída tendo como base seus valores históricos e culturais.
De acordo com Boff (2003), a ética “considera
concepções de fundo acerca da vida, do universo, do ser humano e de seu
destino, estatui princípios e valores que orientam pessoas e sociedades” (BOFF,
2003, p. 37). Por outro lado, o autor explica que a moral se trata da prática
real das pessoas e, por essa razão, faz parte da vida concreta. “Uma pessoa é
moral quando age em conformidade com os costumes e valores consagrados. Estes
podem, eventualmente, ser questionados pela ética” (BOFF, 2003, p. 37). Para
Boff, a pessoa moral não é necessariamente ética, pois a moral orienta para
costumes de conveniência, enquanto a ética, necessariamente, obedece a
convicções e princípios. “A ética seguiu o destino da razão. A natureza da
razão é procurar, e o ethos será um ethos que procura” (BOFF, 2003, p. 42).
Uma vez que não se limita a nenhuma instância, a
razão modificou os modelos sociais humanos, redefinindo tempo e espaço, mas
acarretando limites que, segundo análise do autor, podem ameaçar o futuro da
humanidade, na condição de que, como observa:
sendo os
entes ilimitados, ilimitados são também os saberes. Mas, esquece-se que são
partes de um todo. Realidade fragmentada, gerou saber fragmentado e ética
fragmentada em infindas morais, para cada profissão (deontologia), para cada
classe e para cada cultura (BOFF, 2003, p. 42)
Devido a esta fragmentação apontada por Boff, a ética
pode variar entre nações e, até mesmo, entre grupos profissionais, ao que se
denomina como deontologia, o que se tornou um dos principais ramos da Ética
Normativa. O termo foi cunhado por Jeremy Bentham, filósofo inglês, em 1834,
com o fim de especificar o ramo da ética que estuda o dever e as normas, sendo
conhecida também como “Teoria do Dever”. No entanto, a Deontologia pode também
representar o conjunto de princípios e normas de comportamento ou deveres de
uma dada profissão, regulando seu exercício em acordo a um Código de Ética estabelecido
para cada categoria, como escreve Gonçalves (2007).
Neste caso, então, a Deontologia seriam as normas
estabelecidas não pela moral, mas pela ética, uma vez que objetiva a correção
de intenções, ações, direitos, deveres e princípios. O primeiro Código
Deontológico profissional foi feito para a área de Medicina, nos Estados
Unidos. Desde então, várias categorias adotaram o método a fim de padronizar as
ações dos profissionais em atuação e, claro, responder a uma crescente
exigência social. Por este motivo, a força das decisões individuais dentro das
instituições é fator de preocupação para Leisinger.
O fato
de o mercado ‘fracassar moralmente’ quando as pessoas que nele atuam apresentam
deficiências morais se manifesta também em muitos exemplos de uma irresponsável
mentalidade da vantagem própria alcançada ao custo da saúde e da vida de pessoas
(LEISINGER, 2001, p. 46)
Leisinger defende que “a consciência moral da pessoa
não pode ser estabelecida nem determinada; a lei não desobriga o homem do
encargo de pensar e de agir com ética e reflexão” (LEISINGER, 2001, p. 49). Outro
ponto importante ressaltado pelo autor, neste sentido, situa-se nos limites
éticos. De acordo com ele, dilemas éticos sempre se farão presentes quando
surgir a dicotomia moral/imoral. Leisinger afirma:
Ideias
sobre o que seja moralmente aceitável sempre são determinadas culturalmente e
marcadas pelo respectivo contexto social. Por isso, a mesma forma de
comportamento, conforme a ética em que se baseie, pode aqui ser considerada
como moral e ali como imoral (2001, p. 62)
Isto ocorre devido às diferenças culturais que marcam
a formação da moral do indivíduo, como já dito anteriormente. Por essa razão, o
autor ressalta:
Dilemas
éticos são, pois, situações em que ocorre escolha não entre uma ação imposta
pela ética e outra proibida, mas apenas entre dois ou vários males. Também o
omitir-se, ou a aceitação de uma determinada situação problemática, pode ser
uma escolha eticamente inadmissível. O que aqui ocupa o lugar central é a
ponderação sobre o mal eticamente menor. (LEISINGER, 2001, p. 120-121)
Para tanto, Leisinger acredita que os tomadores de
decisão precisam ser dotados de coragem civil, a qual ele define como “a
coragem de defender as próprias convicções e valores, mesmo quando o contexto
social prefere outras convicções e outros valores” (LEISINGER, 2001, p. 160). Por
esta razão, aderir a um modelo semelhante ao proposto por Ianhez[2]
faria sentido. O autor acredita que ao se diferenciar a Ética dos Valores, as
organizações acabam criando uma situação conflitante de interesses, vez que a
ética, nesta perspectiva, estaria mais aliada a um processo de sanções e
punições, enquanto os valores diriam respeito a prosperidade e desenvolvimento.
A mudança na nomenclatura
parece ser simples, todavia a linguagem é uma das dimensões fundamentais na
formação do indivíduo, logo o questionamento e sugestão tornam-se lógicos no
processo de implantação de uma gestão voltada para a harmonia entre os
interesses das organizações, seus públicos, a sociedade, em geral, e até mesmo
o meio ambiente. "Um Código de Valores dá aos membros de uma organização
direção, visão comum, decisões uníssonas, independente da distância que os
separam” (IANHEZ).
Assim, a ética seria incluída,
sem dúvidas nesse apanhado de valores fundamentais à atuação de toda e qualquer
organização. Mas, vista sob esta perspectiva, teria sua vivência e aplicação na
gestão organizacional facilitada, vez que, como escreve o autor, priorizaria
uma liderança baseada em valores e não em sanções, incentivando as práticas
éticas por parte daqueles que compõem as organizações e são, em suma, os
responsáveis pelo que estas representam socialmente.
De acordo com Andrade, a discussão sobre a ética
organizacional teve início da década de 1980, ganhando mais destaque nos anos
1990. De acordo com a autora, “a ênfase no comportamento ético deixou de ser um
modismo" (2009, p.2). Neste sentido, afirma Andrade, o profissional de
relações públicas, enquanto representante da imagem das organizações, assume um
papel fundamental na gestão de relacionamentos baseados em padrões éticos.
A
própria definição de Relações Públicas deixa evidente que é preciso estabelecer
e/ou buscar a compreensão mútua e os interesses coletivos, e isto só pode ser
conseguido, se houver uma preocupação com a ética nos relacionamentos e com as
estratégias de comunicação que propiciem o diálogo, para a construção
participativa de um comportamento ético, em toda a organização e para com todos
os seus públicos" (ANDRADE, 2009, p.2)
Ora, Kunsch (2003) destaca que “[...] as relações
públicas, lidam basicamente com as relações de poder dentro das organizações e
com a administração de controvérsias, confrontações, crises e conflitos sociais
[...]” (KUNSCH, 2003, p. 109), o que demonstra a ligação íntima da atividade
com a alta gerência das organizações e, consequentemente, a participação nas
tomadas de decisões, a partir da leitura e análise do ambiente externo tanto
para prevenção, quanto para remediação dos problemas quando estes instalam-se
nas organizações.
Mainieri (2014) escreve que a atividade de relações
públicas é fundamentada em valores como transparência, democracia e diálogo.
Por essa razão, de acordo com o pós-doutor, a atividade precisa “traduzir os
anseios da sociedade, balizando suas ações em transparência, veracidade,
diálogo, respeito, dentre outros aspectos” (MAINIERI, 2004, p. 12), uma vez que
“a postura ética das empresas, revelada no compromisso com os públicos,
torna-se condição para a sobrevivência, manutenção e expansão das organizações”
(MAINIERI, 2014, p. 5). É esse comportamento sólido dos próprios profissionais,
balizado na criação de códigos específicos à categoria, que resguarda a
sociedade da atuação daqueles antiéticos.
A adoção de um Código de Ética
próprio às organizações e o respeito aos da própria categoria, desta forma,
podem ser considerados aspectos lógicos para a manutenção de uma gestão
inteligente e ética. Gonçalves observa que “os códigos internacionais mais
reconhecidos e adotados pelas associações profissionais de RP são o Código de Atenas[3], o Código de Lisboa[4] e o Code of Professional Standards[5] da Public Relations Society of America (PRSA)" (2007, p.10-11). A
exposição da análise feita pela autora sobre os documentos leva a crer que os
códigos de ética funcionam mais como facilitadores do processo mercadológico e
relacional com o público, tendo-se em vista que contribuem para o equilíbrio
entre interesses das organizações e seus públicos. Isto porque, de acordo com
ela, os códigos “funcionam mais como uma ferramenta de auto-educação do próprio
profissional do que como uma base para a sua avaliação e consequente punição”
(GONÇALVES, 2007, p.13).
Esta tentativa de regulamentação da conduta do
profissional de Relações Públicas traz, por conseguinte, uma série de
questionamentos sobre a conduta dos profissionais e das organizações em que
atuam. Principalmente, com a modernidade determinadas questões tornam-se
urgentes, dentre elas a ética que, hoje, é vista pela sociedade como
pré-requisito nos relacionamentos mercadológicos, já que se entende que esta
relação entre organizações e públicos deve ser equilibrada, ou seja, uma
relação de troca harmoniosa, ao que Gonçalves (2007) traz em sua argumentação
sob a perspectiva de um modelo simétrico, proposto por Grunig.
Na perspectiva
sistémica de Grunig o objectivo último das RP é a compreensão mútua entre a
organização e todos os públicos envolvidos, através da modificação da atitude e
comportamento, tanto da organização como dos públicos. Este objectivo só é
viável através da prática do two-way symmetric model que, ao contrário dos
outros modelos de RP (press-agentry; public information e two-way asymetrical
model), é o único que se fundamenta no conceito de simetria” (GONÇALVES, 2007,
p.7)
De acordo com Gonçalves (2007), o aumento dessa
preocupação da sociedade com as questões éticas referentes ao exercício da
atividade de relações públicas está atrelado à opinião pública atual, muito
influenciada pelas perspectivas adotadas pela produção ficcional, seja em forma
de livros ou produções audiovisuais, citando como exemplo, inclusive, um dos
filmes objetos de estudo da análise que procederá esta pesquisa, sendo Thank you for smoking (“Obrigado por
fumar, 2005), de Jason Reitman.
2.3
Identidade e estereótipo
Esta crise imagética a que se refere Gonçalves (2007),
à qual os profissionais de relações públicas tem sido submetidos, pode ser
conectada à questão das ilusões nas representações cotidianas, denominadas por
Marx como “representações ilusórias” da realidade. Esta denominação diz
respeito, na obra de Marx, às questões das divisões do trabalho entre manual e
imaginário. De acordo com Viana (2013), o conceito de imaginário aproxima-se da
ideologia, pois “expressa as representações cotidianas ilusórias, ou seja,
carrega em si todas as características das representações cotidianas e tem como
elemento distintivo o seu caráter ilusório”. Neste sentido, então, imaginário e
ideologia compartilham o caráter ilusório, embora o primeiro diferencie-se por
sua simplicidade em relação à complexidade do pensamento ideológico.
É esta simplificação da realidade que, segundo o
autor, conduz a uma representação deformada da realidade e, por conseguinte,
das representações sociais. Viana cita como exemplo, neste caso, a teoria
darwiniana que se viu reduzida a uma cronologia evolutiva de macacos. Outro
exemplo, neste sentido, poderia ser o extenso uso da palavra recalque, um dos
conceitos fundamentais da psicanálise desenvolvido por Sigmund Freud em suas
teorias comportamentais que, no contexto atual, foi reduzido a um sinônimo de
inveja. Viana introduz a partir daí o conceito de ideologema[6],
mas que não será aprofundando nesta pesquisa, que oferta, entretanto, luz sobre
a questão da representação cotidiana pelo cinema, foco da análise conduzida
neste estudo. Como escreve:
“Se até
mesmo os “ideólogos passivos” (meros reprodutores) possuem dificuldades em
resumir em obras de divulgação científica ou em aulas as ideologias sem
provocar uma forte simplificação e em grande parte das vezes sua deformação,
então isso é mais difícil e comum no caso daqueles que trabalham com as representações
cotidianas. Assim, em um filme se pode repassar a concepção elitista de arte,
reproduzindo determinada ideologia, mas sob a forma de ideologema” (VIANA, 2013)
Ora, a representação social é um dos sub-conceitos
inerentes à teoria da identidade. De acordo com Santos, a “identidade, enquanto
característica singular de um indivíduo que o distingue do outro, implica,
paradoxalmente, uma dualidade: a identidade pessoal (ou a identidade para si) e
a identidade para os outros” (2005, p. 123). Este processo, porém, não é linear
ou estável. Pelo contrário, depende da aceitação individual e coletiva, bem
como das mudanças sociais e ambientais que ocorrem ao redor do indivíduo,
também sofrendo influências, desta forma, de grupos de referência, valores e
expectativas. Por esta razão,
o
processo de identidade é um processo dinâmico de interacção entre, por um lado,
as características individuais, consciência e os construtos organizados do
sujeito e, por outro, as estruturas físicas e sociais e os processos de influência
que constituem o contexto social” (SANTOS, 2005, p. 125).
Santos defende que “é no mundo social que a nossa
identidade, em última instância, se configura e prevalece”. Logo, a identidade
não pode ser vista como uma coisa, mas deve ser considerada como um processo em
que reconhecimento, valorização, confirmação e/ou desconfirmação do outro
conduzem o indivíduo a uma negociação objetiva e subjetiva das características
identitárias que assume.
A perda
de determinada identidade social, como, por exemplo, a identidade profissional
(ser professora e assistente social), terá repercussões irremediáveis em termos
da minha concepção de mim e dos outros, impelindo-me a construir uma nova
história de vida, novas relações sociais e influenciando a base ou matriz da
minha individualidade. Forçosamente, certas características permanecerão, mas
outras surgirão e outras, ainda, desaparecerão para sempre. O ‘eu’ que conhecia
até então desapareceria e daria lugar a um outro. E desaparecia, igualmente,
uma parte importante das minhas relações sociais, nomeadamente de alguns grupos
de pertença e de referência. Se o meu percurso biográfico implicasse uma
mudança profissional extrema, teria que me integrar em novos grupos,
desempenhar novos papéis, incorporar novas histórias e reformulá-las à luz de
novos contextos que implicariam uma reconstrução de identidade (SANTOS, 2005,
p. 127).
A instância profissional, neste sentido, também é
forte influenciador deste processo e, por essa razão, motivo de especulação de
diversos autores. Santos observa que a questão da identidade profissional está
ligada não apenas à formação da identidade individual, mas também caracteriza,
por si só, um processo distinto de formação e construção. A influência das
representações sociais no imaginário coletivo torna-se, aqui, importante ponto
de mutação e deslocamento das identidades, vez que, enquanto profissionais, os
indivíduos veem-se submetidos a uma outra série de características que podem ou
não condizer com aquelas que o formam individualmente. Isso ocorre porque as
identidades profissionais, tal como destaca Santos (2005), são formadas para o
coletivo, ignorando muitas vezes o individual.
Tendo em vista que as representações sociais são
formas simplificadas de ideologias, as identidades profissionais podem ser
prejudicadas quando lança-se mão de características generalizantes que tem como
objetivo criar uma ideia comum classista. É daí que se vê surgir, em grande
parte, a questão dos estereótipos que, claro, também estão sujeitos a mutações
com o passar do tempo e a mudança das gerações. O termo descende do grego
(“stereos” – sólido, firme; e “typos” – molde ou modelo) e pode denotar, em uma
análise livre, que indivíduos, agrupados de forma semelhante por possuírem
características em comum, passam a mesma impressão, ou seja, possuem um mesmo
“modelo”.
Por possuir um cerne generalista, os estereótipos
assumem, comumente, uma prerrogativa negativa, pois podem servir à implantação
de sistemas separatistas ou exclusivos, ocasionando depreciação e/ou discriminação
de grupos e indivíduos. Por outro lado, podem servir também como ponto de
partida do convívio social, já que agilizam a percepção do mundo real, evitando
um redescobrimento contínuo das mesmas leis da natureza, como escreve Baccega.
[...] sem
essas normas e estereótipos, estaríamos sempre redescobrindo a América e
constatando de novo que o fogo queima e pode matar. Isso é o que leva Lippmann
a afirmar que há "economia" no estereótipo, que ele pode agilizar a
percepção. Aqui temos a conformidade (BACCEGA, 1998, p.8)
A observação, no entanto, deve estar no fato de que
essa conformidade nomeada por Baccega, pode tornar-se conformismo. Neste
sentido, os estereótipos apenas reforçam ideias que, necessariamente, não são a
realidade e que, por sofrerem influências diretas dos aspectos subjetivos de
cada indivíduo, podem manifestar-se de forma negativa na sociedade.
O
estereótipo, assim como o conceito, é um reflexo/refração específica da
realidade - ou seja, reflete com desvios, como um lápis que, colocado em um
copo de água, "entorta" -, mas o estereótipo comporta uma carga
adicional do fator subjetivo, que se manifesta sob a forma de elementos
emocionais, valorativos e volitivos, que vão influenciar o comportamento
humano. Ele se manifesta, portanto, em bases emocionais, trazendo em si, como
já dissemos, juízos de valor preconcebidos, preconceitos, e atuam na nossa
vontade. Nossa cultura está plena de exemplos, entre os quais podemos lembrar
os indígenas e os afro-descendentes” (BACCEGA, 1998, p.10)
É nesta valoração dos estereótipos enquanto conceitos
que surgem os preconceitos. E, apesar de ficar mais claro nas relações étnicas,
este processo pode ser observado em várias instâncias da sociedade, tal como
ocorre em relação aos grupos, minorias e, também, no campo profissional. Tem-se
que, historicamente, algumas carreiras eram (e são, ainda) consideradas de
maior prestígio do que outras, assim como, algumas ocupações possuem menor
valoração aos olhos da sociedade. Estas distinções, em acordo ao que nos
apresenta Baccega, podem ser consideradas estereotipagem, pois são nada mais do
que conjuntos de valores subjetivos e coletivos apresentando-se como conceitos
intrínsecos àquelas áreas de atuação. A profissão de Relações Públicas, deste
modo, não estaria imune a este processo.
Sistematizada em 1906, pelo jornalista Ivy Lee, nos
Estados Unidos, no Brasil a atividade chegou mais tarde, por volta de 1914.
Apesar de ser regulamentada, contudo, as Relações Públicas ainda são campo de
discussão quando se trata de sua conceituação e definição. É o que aponta Cândido
Teobaldo de Souza Andrade com um pouco de ironia.
“Não há
escassez de definições – 987 nos Estados Unidos da América em 1952, mas nenhuma
delas parece satisfazer completamente... Há tantas definições e conceitos sobre
relações públicas quanto há estudiosos, professores, profissionais e
admiradores dessa atividade” (1993, p. 29).
Como escreve França (2002), as definições da
atividade são, em grande parte, apenas descritivas, funcionais e operacionais,
o que não leva ao cerne da atividade.
As
definições de relações públicas demonstraram que, por serem nominais e
descritivas, não expressam o que são as relações públicas pela sua essência,
mas por suas propriedades e pela enumeração de suas diversas funções,
estratégias e ações. Em filosofia, diz-se que tais definições são acidentais,
isto é, explicam o termo pela descrição daquilo que se reporta a ele, mas de
forma acidental, que não o constitui em seu sentido pleno. São, na linguagem
filosófica, definições imperfeitas, por não determinarem a essência do que é
definido, permitindo que a mesma coisa possa ser definida de muitas outras
maneiras, como é o caso das inúmeras tentativas de determinar com clareza o que
é a atividade de relações públicas” (França, 2002, p.17)
Se a própria academia, enquanto espaço da construção
e multiplicação do conhecimento, padece na tentativa de formar uma definição
única para a atividade, quanto mais a sociedade, de uma forma geral, não
poderia ser responsabilizada por não saber afinal, do que se tratam as Relações
Públicas. É recorrente deparar-se com indagações sobre o que é a atividade, ou
o que faz um profissional da área. Mas, é devido a esta falta de unicidade
própria daqueles que formam o campo. É por esta razão que se pode inferir que a
atividade esteja cercada por um mar de estereótipos criados pelas várias
instâncias relacionadas à área, devendo estes estigmas, em parte, também, às
produções midiáticas, das quais podem-se citar aqui as telenovelas, que vez ou
outra trazem personagens cuja profissão é a de relações-públicas, e o cinema,
objeto de apreciação desta pesquisa, que já explorou mais a atividade, embora
não com profundidade analítica, como será apresentado adiante.
3
A SÉTIMA ARTE
3.1
Um pouco de história e contexto
A modernidade trouxe uma série de mudanças para o
ambiente urbano, o que sujeitou o indivíduo a um bombardeio de impressões,
gerando a sensação de desconforto e medo. De acordo com Ben Singer, “como um
conceito moral e político, a modernidade sugere o ‘desamparo ideológico’ de um
mundo pós-sagrado e pós-feudal no qual todas as normas e valores estão sujeitos
ao questionamento” (2004, p. 95). Os principais fatores que levaram o ambiente
urbano a um nível maior de caos e super estímulo foram o aumento da população,
a intensificação da atividade comercial, a proliferação dos sinais e a nova
densidade e complexidade do trânsito.
É neste sentido que Michael Davis, como relata Singer
(2004), cunha o termo hiperestímulo para descrever esse novo ambiente que se
configurava no final do século XIX. O conceito adotado por Singer expõe bem o
turbilhão de novidades e ansiedades que formam a modernidade, à qual a imprensa
sensacionalista passa a representar por meio de cartuns que se apropriam dessa imagem
que o novo período adquire, retratando a paisagem como um estímulo agressivo,
inclusive. Ben Singer ressalta, porém, que a mesma imprensa que critica o novo
modelo de sociedade é, também, apologia ao mesmo, por demonstrar fascínio pelo
grotesco que relata, e motivo de contradição, por esta razão.
Os
retratos da modernidade urbana na imprensa ilustrada parecem flutuar entre uma
nostalgia antimoderna de uma época mais tranquila, de um lado, e uma fascinação
básica pelo horrível, pelo grotesco e pelo extremo, de outro. As imagens da
imprensa ilustrada eram, paradoxalmente, uma forma de crítica social e, ao
mesmo tempo, uma forma de sensacionalismo comercializado, uma parte do fenômeno
do hiperestímulo moderno que as imagens criticavam (SINGER, 2004, p.110)
A partir de meados de 1905, entretanto, até mesmo o
entretenimento passa a ser, também, uma fonte de estímulos – cenas vívidas e
cheias de suspensa e ação tornam-se recorrentes no teatro. Singer escreve que
“a ‘sensacionalização’ do divertimento comercial foi particularmente
pronunciada no melodrama teatral” (2004, p.112).
Enquanto
o melodrama vitoriano havia enfatizado o patético e a oratória moralizantes de
vítimas inocentes e seus heróis, seu congênere de fim-do-século tornou-se
virtualmente sinônimo de ação violenta, acrobacias e espetáculos envolvendo
catástrofe e risco físico. [...] enquanto os primeiros melodramas talvez
tivessem apenas um clímax espetacular, o melodrama da virada do século passou a
acumular uma série de emoções (SINGER, 2004, p.112-113)
E é no centro de todas essas tendências a sensações
hiperestimulantes que o cinema nasce/surge. Em 1987, Hermann Kienzl definiria a
alma cinematográfica como a própria alma metropolitana[7]
– sempre atormentada, curiosa e desancorada, baseada num acúmulo de percepções
extremamente rápidas e superficiais. Esse novo entendimento baseia-se,
principalmente, nas teorias psicanalíticas da década de 1910, sendo que a sede
pelo estranho e pelo novo seriam o principal motivo da aceitação do cinema pela
sociedade moderna. Singer chama a atenção para o que Máximo Gorki fez ao situar
o novo entretenimento nesse ciclo inflacionário, em que o indivíduo, devido aos
anos de hiperestimulação, exige cada vez mais novas excitações. Por essa razão,
como argumenta o autor, a sociedade quase que se tornou ‘imune’ aos estímulos
da modernidade, tendo no cinema, então, uma espécie de amortecedor sensorial e
um super estimulador compensatório.
Enquanto aparato, o cinema foi inventado por Auguste
e Louis Lumière. O aparelho nomeado cinematógrafo, e que consistia em uma
espécie de três em um, por guardar as funções de gravar, revelar e reproduzir,
foi desenvolvido pelos irmãos no final do século XIX, sendo que a primeira
exibição oficial foi realizada no dia 28 de dezembro de 1895. Na época, no
entanto, os filmes não eram tal como se conhece hoje. As películas não possuíam
enredos elaborados, não passando da captação de cenas do dia a dia reproduzidas
como tal. Foi com George Méliès que a contação de histórias foi incorporada à produção,
por meio de seu filme “Le voyage dans la lune”[8]
que, com apenas 14 minutos de duração, encantou o público.
O som foi um dos maiores desafios para as produtoras.
Somente em 1926, a Warner Brothers introduziu o sistema Vitaphone, que
possibilitou a entrega de filmes com algumas cenas de som sincronizado, aliadas
a outras totalmente mudas. Dois anos mais tarde, a companhia lançou seu
primeiro filme com som totalmente sincronizado, inaugurando a era dos filmes
falados. Ao final de 1929, o cinema já era quase totalmente falado em
Hollywood. Concomitantemente a esta transição, o cinema ganhava também sua
linguagem própria, tendo como principal contribuinte neste processo o cineasta
David Ward Griffith.
O diretor é, especialmente, considerado importante no
processo de criação da indústria cinematográfica por importar da literatura a
linguagem narrativa, adaptando-a ao aparato cinematográfico. De acordo com
Xavier (1984), é Griffith quem traz o gênero do melodrama e, principalmente,
trata o cinema como instrumento pedagógico, a fim de levar ao público lições de
moral com caráter socioeducativo. Outra contribuição importante, como destaca
Xavier (1984), é a introdução das montagens que, em síntese, fornecem sentido à
narrativa exposta na tela. O autor expõe que é essa “[...] arquitetura visual
que engendra clima e sentido a partir da combinação hábil de detalhes” (1984,
p.53-54). É a montagem, assim, que leva o cinema a sugerir
[...] o
todo pela parte, a causa pelo efeito, dispondo os dados essenciais na ordem
mais conveniente e expressiva, a imagem do mundo se conformando às decisões da
figura invisível do narrador que nos oferece as ações e o espetáculo (XAVIER,
1984, p.54).
Outros aspectos inseridos por Griffith na narrativa
cinematográfica, para os quais o autor chama a atenção, são os movimentos de
câmera, que era fixa até então, a simultaneidade das ações, com direito a cenas
que interagem entre uma ação e outra dentro da narrativa, fornecendo a ideia de
conflito e/ou tensão, a adoção do primeiro plano e também do plano de detalhe,
que oferecem maior impressão de realidade, e a interpretação naturalista, esta
importada do teatro e que se configura como um dos fatores relevantes no
processo de ilusão cinematográfica, nomeado pelo teórico francês Jean-Claude
Bernardet, o que será abordado com maior atenção adiante.
3.2
Linguagem e Narração
Robert Stam, afirma que “os primórdios do cinema
coincidiram, pois, justamente com o apogeu do imperialismo” (2003, p.34). O
autor defende, inclusive, que o aparato foi uma das ferramentas utilizadas no
processo de consolidação do imperialismo ocidental no mundo, já que mostrava a
visão do colonizador sobre o colonizado. Para Stam, a história do
cinema não pode ser resumida à produção fílmica e seus cineastas, mas está intimamente
ligada à história dos diversos significados que os públicos atribuíram e
atribuem aos filmes. Isso porque o autor considera que o cinema é um importante
meio de comunicação, de veiculação de histórias e criação de identidade.
Se, por
um lado, o cinema é mimese e representação, por outro é também enunciado, um
ato de interlocução contextualizada entre produtores e receptores socialmente
localizados. Não basta dizer que a arte é construída. Temos de perguntar:
Construída para quem e em conjunção com quais ideologias e discursos? Neste
sentido, a arte é uma representação não tanto em um sentido mimético quanto
político, da delegação da voz (STAM, 2003, p. 305)
Bernardet (1980) também defende esta visão. Para o
autor, a apresentação do cinema enquanto expressão do real tem a ver com a
dominação ideológica. Deste modo, não importaria o cinema, em si, mas o que
dizem os filmes, ou seja, seu conteúdo. Daí pode-se somar a ideia de que o
cinema se propõe a reproduzir a realidade.
O realismo, um termo surpreendentemente
elástico e contestado, ingressa na teoria do cinema sobrecarregado das
incrustações milenares dos debates precedentes na filosofia e na literatura
[...] O termo ‘realismo’ é confuso, porque esses usos filosóficos primitivos
parecem, com frequência, diametricamente opostos ao ‘senso comum’ do realismo –
a crença na existência objetiva dos fatos e a tentativa de enxerga-los sem
idealizações (STAM, 2003, p.29)
A palavra ‘realismo’ é derivada do grego mimesis, que significa ‘imitação’. A relação
com o cinema, então, surgiria a partir daí, já que o cinema é, ou tenta ser,
uma imitação da realidade – ou, melhor pontuando, uma percepção natural da
lente, ao que Bernardet (1980) nomeia como impressão de realidade. Para Stam
(2003), o cinema é herdeiro desse mimetismo, embora haja ainda uma dicotomia
entre esse realismo do cinema e sua modernidade, que foi herança dos movimentos
das artes na Europa do final do século XIX. Outro ponto para o qual Stam chama
a atenção é o fator de democratização do cinema. Como escreve:
Um
leitmotiv bastante comum nos primeiros escritos sobre o cinema foi o seu
potencial para a democratização, um tema sempre presente com o advento de toda
e qualquer inovação tecnológica, como é o caso, contemporaneamente do
computador e da Internet (STAM, 2003, p.40)
O cinema foi um grande impulsionador da
democratização, assim como a Internet é hoje. Isso porque, conforme o autor, o
cinema possibilitava ao mais miserável dos homens viajar a lugares estrangeiros
sentado em uma poltrona, em frente a uma grande tela. O que ocorre, atualmente,
com o advento da Internet que concede acesso à informação – embora, este acesso
ainda seja motivo de controvérsia, vez que a inclusão digital ainda não é uma
realidade em todo o mundo. No caso do cinema, entretanto, como aponta Stam,
houve uma inovação gigantesca em razão do aparato. Com isso, a partir da tela,
o expectador podia ter acesso a culturas de outros lugares, fisicamente, e até
mesmo intelectualmente, inalcançáveis para ele.
Assim,
alguns prometiam que o cinema reconciliaria as nações inimigas e semearia a paz
pelo mundo, ao passo que outros manifestavam um ‘pânico moral’, um temor de que
o cinema pudesse contaminar ou degradar o público das classes mais baixas,
induzindo-o ao vício e ao crime. Nessas reações, percebe-se a convergência do
vulto imponente de três tradições discursivas: (1) a hostilidade platônica às
artes miméticas; (2) a rejeição puritana às ficções artísticas; e (3) o
escárnio histórico das elites burguesas pela plebe imunda (STAM, 2003, p. 40)
Uma prova dessa rejeição é quanto às produções
realizadas fora do grande centro. Stam mostra que os filmes não se restringem à
Hollywood, já que a maioria dos longas-metragens produzidos atualmente é
originária da Índia. Apesar da produção cinematográfica ter surgido e se
concentrado, inicialmente, em países como Grã-Bretanha, França e Estados
Unidos, a tecnologia não ficou restrita a estes territórios, dando abertura
para os chamados países de terceiro mundo realizarem suas próprias produções e
experimentos. Isto, no entanto, não impede que essas produções “alternativas”
sejam continuamente ignoradas e desvalorizadas por contrariarem a narrativa
clássica. Até mesmo a produção europeia, berço do cinema moderno, tem ficado à
margem das grandes salas comerciais.
Houve, contudo, como relata Bernardet (1980), uma
ruptura com a linguagem clássica, que pode ser observada nas produções
conduzidas por vários países, onde tanto as estruturas de produção, quanto de
financiamento, configuravam-se de maneiras distintas àquela praticada em
Hollywood. De acordo com o autor, esse “[...] movimento de renovação que se dá
ao nível da temática, da linguagem, das preocupações sociais e das relações com
o público pode ser datado de 1945, quando começa o neorealismo italiano”
(BERNARDET, 1980, p.93). Esse processo não ficou restrito ao solo europeu. No
Brasil, essa renovação do cinema encontrou bastante receptividade entre alguns
cineastas ainda no final da década de 1940, emplacando várias produções de
destaque nos anos seguintes, tais como Rio,
quarenta graus (1955), Rio, Zona
Norte (1955), de Nelson Pereira, e O
grande momento (1958), de R. Santos.
França, União Soviética e Alemanha também deram
significativas parcelas de contribuição para esse movimento do cinema novo.
Além do despertar de várias outras nações subdesenvolvidas para a produção
cinematográfica, tais como Senegal, entre outros países da África negra, Egito,
Argélia, México, Chile, Argentina e Cuba. Foi graças a esses movimentos que a
linguagem cinematográfica passou por uma espécie de revisão. Pois, como
ressalta Bernardet (1980, p.105), “esse cinema afirma-se em oposição ao cinema
indústria e ao filme de produtor”. Com relação à linguagem, propriamente dita,
o autor afirma que as modificações são enormes, embora no circuito comercial
internacional ainda se conserve muitas aproximações, tais como a linearidade da
narrativa, a câmera fixa, os planos longos e de detalhe, o flashback e o final
clássico. No fim, como escreve Stam:
O cinema
é uma linguagem, em resumo, não apenas em um sentido metafórico mais amplo, mas
também como um conjunto de mensagens formuladas com base em um determinado
material de expressão, e ainda como uma linguagem artística, um discurso ou
prática significante caracterizado por codificações e procedimentos
ordenatórios específicos (Stam, 2003, p. 132)
3.3
Ilusão cinematográfica e a impressão de realidade
Há quem
tome o cinema como lugar de revelação, de acesso a uma verdade por outros meios
inatingível. Há quem assuma tal poder revelatório como uma simulação de acesso
à verdade, engano que não resulta de acidente mas de estratégia (XAVIER, 2003,
p.31)
De acordo com Jean-Claude Bernardet (1980), quando o
cinema surgiu a novidade era a ilusão. E foi, justamente, esta ilusão que fez
com o público se encantasse pela telona, o que contribuiu para o cinema
tornar-se um fenômeno mundial conhecido como a arte do real. O autor rebate
esta ideia, justificando que tal afirmação é “forçar um pouco a barra”, já que
a imagem cinematográfica não reproduz a visão humana por uma série de questões,
tais como campo de visão, percepção e naturalidade das cores. É também ilusão o
movimento cinematográfico que, como defende Bernardet, não existe na tela. “O
movimento cinematográfico é uma ilusão, é um brinquedo ótico. A imagem que
vemos na tela é sempre imóvel” (BERNARDET, 1980, p.18).
A esta tentativa de tornar o cinema uma leitura do
real, o autor chama de impressão de realidade. De acordo com o teórico, tratar
o cinema como algo natural é o mesmo que dizer que a realidade se expressa por
si só na tela.
Eliminando
a pessoa que fala, ou faz cinema, ou melhor, eliminando a classe social ou a
parte dessa classe social que produz essa fala ou esse cinema, elimina-se
também a possibilidade de dizer que essa fala ou esse cinema representa um
ponto de vista. Ao dizer que o cinema expressa a realidade, o grupo social que
encampou o cinema coloca-se como que entre parênteses, e não pode ser
questionado (BERNARDET, 1980, p.19)
Deste modo, nas palavras do autor, o cinema alcança a
impressão de realidade por sua capacidade de ocultar à percepção do espectador
técnica e aparato por trás da produção, o que resulta no apagamento do emissor.
Neste processo o discurso torna-se ‘verdade’, em si mesmo, deixando o espectador
com a impressão de uma visão natural como de quem olha para a ‘realidade’.
Bernardet observa que a história do cinema, em sua maioria, é o registro da luta
pelo ocultamento da narrativa a fim de sustentar a impressão de realidade. “O
cinema, como toda área cultural, é um campo de luta, e a história do cinema é
também o esforço constante para denunciar este ocultamento e fazer aparecer
quem fala” (BERNARDET, 1980, p.17).
Ismail Xavier explica que o processo fotográfico, do
qual o cinema é fruto, tem grande poder sobre o observador comum. De acordo com
o autor, essa fé na imagem capturada mecanicamente, enquanto evidência da
realidade, surgiu com a fotografia, mas foi aprimorada pelo cinema, já que, na
tela “as relações entre visível e invisível, a interação entre o dado imediato
e sua significação, tornam-se mais intricadas” (XAVIER, 2003, p.33). Isso
ocorre devido às novas relações que são criadas continuamente a partir da
montagem de uma sequência pela sucessão de imagens e que levam o espectador a
“estabelecer ligações propriamente não existentes na tela” (ibid). Por esta
razão, o autor ressalta que conquanto aparente, a leitura da imagem não é
instantânea. “Ela resulta de um processo em que intervêm não só as mediações
que estão na esfera do olhar que produz a imagem, mas também aquelas presentes
na esfera do olhar que as recebe. Este não é inerte, pois, armado, participa do
jogo” (XAVIER, 2003, p.35)
A ilusão cinematográfica[9]
consistiria, então, nessa capacidade do cinema de, a partir do envolvimento da
plateia, se assumir como “ponte privilegiada no caminho da compreensão da
experiência humana, da assimilação de valores, da explicitação de movimentos do
coração” (XAVIER, 2003, p.39). Isto se deve, de acordo com Xavier, à
identificação do olhar do espectador com o da câmera, levando o indivíduo a ter
um sentimento de que o mundo está realmente emoldurado pela tela. Este olhar,
contudo, como sublinha o autor, funciona como um filtro que organiza a
aparência das coisas. “Trata-se de um olhar anterior ao meu, cuja circunstância
não se confunde com a minha na sala de projeção” (XAVIER, 2003, p. 35). Deste
modo, na sala escura o espectador não se dá ao trabalho de fazer a leitura do
mundo, já que a apresentação da cena o faz por ele.
“O
usufruto desse olhar privilegiado, não a sua análise, é algo que o cinema tem
nos garantido, propiciando essa condição prazerosa de ver o mundo e estar a
salvo, ocupar o centro sem assumir encargos. Estou presente, sem participar do
mundo observado [...] Na ficção cinematográfica, junto com a câmera, estou em
toda parte e em nenhum lugar; em todos os cantos, ao lado das personagens, mas
sem preencher espaço, sem ter presença reconhecida. Em suma, o olhar do cinema
é um olhar sem corpo” (XAVIER, 2003, p.36-37)
Com a proposta de ser um retrato da realidade, o
cinema de narrativa clássica contribuiu para a criação e a perpetuação de
vários estereótipos na sociedade. Isso porque, em grande parte, o cinema foi
utilizado pelo público para acessar e compreender culturas às quais, antes, não
se tinha acesso facilitado, como descreve Oroz. “Principalmente nos Estados
Unidos, os imigrantes usaram o cinema para compreender o país em que viviam; do
mesmo modo, os espectadores do interior viram no cinematógrafo uma forma de “se
apoderarem” dos hábitos das cidades” (OROZ, 1999, p. 28). De acordo com a
autora, o cinema assumiu, neste sentido, um papel até mesmo de educador, já que
a imagem supria os problemas de compreensão com o público que não sabia ler.
Isso fica ainda mais evidente no gênero melodramático, adaptado dos palcos para
as telas.
A
relação melodrama/convencionalismos sociais não é exclusiva do gênero, e sim de
toda a produção da cultura de massas. Assim, os significados morais defendidos
por ela correspondem a valores patriarcais judaico-cristãos. A defesa destes
conteúdos funciona como reafirmação do mundo conhecido e assimilado pelo
espectador, o que gera uma familiaridade com o produto. Nesta familiaridade é
que se articula a afetividade público/produto (OROZ, 1999, p.29)
É neste sentido que Xavier propõe a análise desta
impressão de realidade do cinema, a partir da apropriação do ideal cênico
elaborado por Diderot[10].
“Esse teatro, por demais ancorado na palavra, depende da exclusiva força
poética do texto, desdenhando o aspecto visual da experiência do palco”
(XAVIER, 2003, p.38). De acordo com Xavier, foi com a Revolução Francesa que
nasceu o teatro popular, consolidando ao que ele chama de “gênero dramático de
massas por excelência: o melodrama” (XAVIER, 2003, p.39). Esta foi a linguagem
narrativa importada para o cinema que, com sua técnica e aparato, tornou-se a
arte ilusionista mais evidente, já que, mesmo representando a vida comum,
promove um distanciamento entre pessoa e personagem, garantindo um espetáculo
sem sofrimento real.
Desta forma, como escreve o autor, “a falsidade do
cinema clássico está na manipulação implícita em sua montagem, pois o olhar sem
corpo e a onividência criam, na tela, um mundo abstrato, de sentido fechado,
organizado pelo cinema” (XAVIER, 2003, p. 46). Estes seriam, portanto, os
moldes de um cinema clássico que se apropria de discursos que correspondem a
apenas uma perspectiva, apresentando-se, todavia, como um retrato da realidade.
De acordo com Bernardet, é aí que o cinema alcança essa impressão de realidade,
deixando o espectador com o sentimento de que é a própria vida na tela. “No
cinema, fantasia ou não, a realidade impõe-se com toda a força” (BERNARDET,
1980, p.13).
Por esta razão, a apropriação do clichê mostra-se um
caminho mais fácil para este cinema de narrativa clássica, objeto de análise
desta pesquisa. Ora, como observa Sylvie Pierre – francesa crítica de cinema – o
clichê não nasceu com o cinema, mas vem do próprio homem, do olhar de cada um.
De acordo com Bordwell, “o filme hollywoodiano clássico apresenta indivíduos
definidos, empenhados em resolver um problema evidente ou atingir objetivos
específicos” (2005, p.278). A composição desses personagens e conflitos, no
entanto, como sinaliza o autor, é simplista e superficial, criando protótipos
básicos que são, então, ajustados às necessidades de cada papel. Assim, “o
personagem mais ‘especificado’ é, em geral, o do protagonista, que se torna o
principal agente causal, algo de qualquer restrição narrativa e principal
objeto de identificação do público” (BORDWELL, 2005, p.279).
Este processo de delimitação a que os personagens são
submetidos é o que gera a criação de estereótipos, como o do vilão e o do
herói, tão recorrentes na narrativa clássica cinematográfica. Stella Senra
chama a atenção para este mesmo fator. De acordo com ele, a exigência da
simplificação provocou no cinema a criação de personagens pouco individualizadas
e sem profundidade. Desta forma, as personagens são apresentadas sob uma única
face, “aquela que leva em conta o desempenho de uma função, de onde são
extraídas as poucas características e qualidades capazes de assegurar o seu
reconhecimento como mais um habitante do mundo ficcional” (SENRA, 1997, p.45-46).
Para o crítico, todo estereótipo tem origem em algum fato real. O exemplo que
Senra usa é o do jornalista retratado pelo cinema clássico como mercenário, que
teve essa característica exaltada devido ao fato histórico de sua baixa
remuneração que sempre o levava a negociar com o editor.
Em seu estudo sobre estereótipos, o jornalista Walter
Lippmann observou que não há na experiência humana visualização comparável
àquela proporcionada pela sala escura. De acordo com ele, “não pode haver
dúvida de que o cinema esteja construindo constantemente imagens, que são,
depois, evocadas” (LIPPMANN, 1922, p.157). Por esta razão que o autor destaca a
contribuição da linguagem cinematográfica para a perpetuação de estereótipos.
“O que importa é o caráter dos estereótipos e a ingenuidade com que os
empregamos” (LIPPMANN, 1922, p.157), argumenta o jornalista. O problema para
Lippmann não é o fato de toda a sociedade fazer parte desta codificação, mas a
forma como tais códigos apresentam-se.
“Se
nessa filosofia, admitimos que o mundo é codificado segundo o código que
possuímos, tenderemos a fazer que nossos relatórios do que está acontecendo
descrevam um mundo dirigido pelo nosso código. Mas se nossa filosofia nos diz
que cada homem é apenas uma pequena parte do mundo, que sua inteligência capta,
na melhor das hipóteses, simples fases e aspectos numa rede grosseira de
idéias, ao utilizarmos nossos estereótipos, tendemos a saber que são apenas
estereótipos, a tratá-los despreocupadamente, a modificá-los prazenteiramente”
(LIPPMANN, 1922, p.157)
No caso dos relações-públicas, o cinema também tem
contribuído para a perpetuação de estereótipos. Como aponta Frank Davies (2008),
frequentemente, o profissional é retratado como alguém pago para promover os
interesses de seu cliente, mesmo que isso custe a verdade. O autor observa
também que o problema não está apenas na forma como a sociedade vê os
profissionais, mas em como estes relações-públicas identificam-se. “They identify themselves as
being paid to represent the interests of their client or organization in the
most persuasive way possible but do not associate personally with the cause
they promote”[11] (DAVIES, 2008, p.3). Para o autor, a afirmação pode até ser sincera, mas é
moralmente condenável.
Em uma pesquisa conduzida em 2008, sobre a mudança
das representações do relações-públicas no cinema hollywoodiano, Carol Ames
verificou que a imagem do profissional melhorou. “Results show that for major films
from Mars Attacks! (1996) to Hancock (2008), public relations practitioners are
more credible, respected and influential, and PR work is more varied and
complex than found in studies of films through 1995”[12] (AMES, 2010, p.164). De acordo com a autora, os profissionais da área sofrem com
um sério problema de crise imagética, sendo vistos até mesmo como charlatães
que usam um nome que lhes conferem mais prestígio. “There was even serious discussion
about whether the term ‘public relations’ was so tainted that it should be
abandoned and be replaced with some other term”[13] (2010, p.165).
Tudo isso causado pela abordagem midiática da
profissão que, no cinema, ganhou também bastante espaço. Devido a proposta de
retratar a realidade, a narrativa clássica contribuiu de várias maneiras para a
criação e perpetuação desses estereótipos que, na avaliação de Ames, tanto
contribuíram de forma negativa para o conhecimento da profissão, como trouxeram
maior clareza sobre a atividade nas produções mais recentes. Contudo, como nota
a autora, mesmo trazendo perspectivas distintas e contribuindo, em parte, para
uma visão mais positiva da atividade, o cinema ainda é o lugar do senso-comum,
perpetuando estereótipos de raça e gênero. “Diversity is not mentioned in the
analysis above, because there is none. In these films, PR is still done solely
by Caucasians. As previously ([Lee, 2001] and
[Miller, 1999]), most practitioners are men”[14].
Outra observação da autora é que o maior desafio para os profissionais, a
partir dos resultados apresentados pela pesquisa, são o vício no trabalho (os
profissionais são conhecidos como workaholics)
e a ética, esta que será a perspectiva fundamental para a análise que se segue.
4
O RP NO CINEMA: ANÁLISE FÍLMICA
4.1 Apresentação das categorias de análise
A análise de filmes é uma
prática bastante comum na contemporaneidade. Seja em jornais ou revistas, não é
raro encontrar-se nas páginas dedicadas às estreias do cinema alguns parágrafos
que tem como objetivo discorrer sobre os filmes em questão. As análises podem
abordar desde questões estruturais, referentes à produção e linguagem das
obras, até os aspectos mais subjetivos que envolvem, em geral, a experiência do
analista. De acordo com Vanoye e Goliot-Lété (1994), esta é uma prática que
deve sempre ser situada em seu contexto de demanda, porque a definição do mesmo
é indispensável, para o enquadramento da análise.
Nesse caso, o procedimento
consiste em retirar dos filmes “informações parciais, isoladas, do filme para
relacioná-las com informações extratextuais (biográficas, sociológicas ou
históricas, estéticas)” (VANOYE, GOLIOT-LÉTÉ, 1994, p. 53). No filme, o real não
é apresentado, mas encenado. Isto porque, como escrevem os autores, “o filme
opera escolhas, organiza elementos entre si, decupa no real e no imaginário,
constrói um mundo possível que mantém relações complexas com o mundo real”
(ibid., p. 56).
Nesta proposta, Vanoye e
Goliot-Lété (1994), dividem a análise em duas etapas consecutivas. A primeira
delas é a decomposição do filme em seus vários elementos. “Parte-se, portanto,
do texto fílmico para ‘desconstruí-lo’ e obter um conjunto de elementos
distintos do próprio filme” (VANOYE e GOLIOT-LÉTÉ, 1994, p. 15). De acordo com
os autores, é esta decomposição que propicia ao analista um certo
distanciamento da obra. “Essa desconstrução pode naturalmente ser mais ou menos
aprofundada, mais ou menos seletiva segundo os desígnios da análise” (ibid).
A etapa seguinte é o que se
pode chamar de reconstrução orientada do filme e consiste em “estabelecer elos
entre esses elementos isolados, em compreender como eles se associam e se
tornam cúmplices para fazer surgir um todo significante” (ibid). A reconstrução
do filme não tem qualquer ponto em comum com a realização concreta do filme,
como destacam os autores. “É uma “criação” totalmente assumida pelo analista, é
uma espécie de ficção, enquanto a realização continua sendo uma realidade. O
analista traz algo ao filme; por sua atividade, à sua maneira, faz com que o
filme exista” (VANOYE e GOLIOT-LÉTÉ, 1994, p. 15).
Já Metz (1980) propõe a
análise de filmes por duas perspectivas diferentes. Na primeira, o interesse do
analista seria em observar, estudar e investigar como um código cinematográfico[15] apresenta-se em vários
filmes. O autor justifica que esta abordagem, geralmente, está vinculada à
investigação da linguagem cinematográfica, já que seu objetivo é verificar as
características sintáticas destes códigos estilísticos, suas tendências de
relação com outros códigos e suas significações.
À sua segunda proposta, Metz
(1980) nomeia como análise fílmica. Nesta abordagem, o filme não é visto de
forma fragmentada, mas sim em sua totalidade, pois o objetivo não é estudar
individualmente determinado código, mas sim estabelecer um “sistema” para o
filme. Isso porque, como observa o autor, "uma seqüência de imagens é
igualmente um texto, ou uma sinfonia, ou uma seqüência de ruídos, ou uma
seqüência compreendendo, a um só tempo, imagens, ruídos e música, etc" (METZ,
1980, p. 103-104). Neste caso, o analista deve considerar todos os elementos da
obra em conjunto, não havendo aspectos mais ou menos importantes, tratando o
filme “como uma realização única, isto é, enquanto distinto de qualquer outro
filme e mesmo de qualquer outro produto cultural” (METZ, 1980, p. 87).
Nesta pesquisa, por ter-se
como tema central a forma como os aspectos éticos da atividade de Relações
Públicas são apresentados pelos filmes selecionados, optou-se por adotar uma
abordagem mesclada das duas propostas elencadas acima. A análise, assim,
conduz-se a partir de um ponto central, sendo este a ética em ação através das
ações dos personagens identificados como profissionais de Relações Públicas, o
que direciona, de certa forma, para uma desconstrução dos aspectos técnicos do
filme, tais como concepção das personagens, linguagem e narrativa utilizadas,
conforme o proposto por Vanoye e Goliot-Lété (1994). No entanto, a fim de não
tomar a parte pelo todo, considera o “sistema” estabelecido para o filme,
buscando sua leitura como um todo e, assim, os possíveis desdobramentos que
tais aspectos apresentados da forma como estão dispostos nos filmes implicam na
imagem dos relações-públicas na sociedade.
Vanoye e Goliot-Lété afirmam
que há limites dentro da análise de filmes, uma vez que o processo de
reconstrução pode tornar-se extremamente subjetivo. De acordo com eles, ao se
fazer a análise, deve-se “respeitar um princípio fundamental de legitimação:
partindo dos elementos da descrição lançados para fora do filme, devemos voltar
ao filme quando da reconstrução, a fim de evitar reconstruir um outro filme” (VANOYE
e GOLIOT-LÉTÉ, 1994, p. 15). Esse retorno do olhar ao filme, para os autores, é
o que garante os limites da “criatividade analítica”. “O filme é, portanto, o
ponto de partida e o ponto de chegada da análise” (ibid). Por esta razão, a fim
de limitar a análise e não cair em elucubrações fantasiosas que fujam ao
exposto pelos filmes em análise, estabelece-se categorias a ser observadas,
sendo estas:
a) Identificação
das personagens enquanto relações-públicas, por meio da verificação do
exercício das funções de RP, elencadas por Kunsch (2003), sendo estas as
funções administrativa, estratégica, mediadora e política. Não se considera a
efetivação das quatro funções, ao mesmo tempo, para tal identificação. Sendo
necessárias, no mínimo, duas funções para a consideração;
b) Caracterização
das personagens identificadas como relações-públicas, buscando o delineamento
de perfis de comportamento e conduta, sob a perspectiva da construção e adoção
de estereótipos, tal como abordado por Baccega (1998), referentes aos
profissionais da área, tendo como objetivo esboçar as possíveis representações
sociais que estas construções acarretam para o processo de formação de
identidade da categoria, conforme exposto por Viana (2013) e Santos (2005);
c) Problematização
dos dilemas éticos apresentados em cena, tendo em vista a conceituação proposta
por Leisinger (2001), e a forma como as personagens identificadas enquanto
relações-públicas lidam com as situações, tendo em vista a opção realizada
pelas mesmas frente às questões impostas.
4.2 Apresentação dos filmes
selecionados
4.2.1
“Obrigado por fumar” (Thank you for
smoking, 2005)
Baseado no romance de Christopher Buckley (1994),
"Obrigado por fumar" (2005) mostra a vida profissional e pessoal de
Nick Naylor, interpretado por Aaron Eckhart, um carismático lobista que
representa a Academia de Estudos do Tabaco, entidade não-governamental
financiada pelo grande conglomerado de indústrias de cigarro dos Estados
Unidos. A comédia, dirigida por Jason Reitman, retrata as grandes companhias
como organizações do mal que usam experts para influenciar o público,
manipulando-o a fim de adquirir seus produtos venenosos. Nick Naylor faz parte
daquilo que fica conhecido como Esquadrão MDM (Mercadores da Morte), um grupo
de lobistas que inclui, além do protagonista da trama, os representantes dos
conglomerados produtores de bebidas alcóolicas e de armas de fogo.
O clima da película é delineado desde o início, com a
escolha da canção "Smoke! Smoke! Smoke! (That Cigarette)", escrita
por Merle Travis e Tex Williams em 1973. A canção no estilo western satiriza o vício em nicotina,
fazendo referências a vários momentos em que o fumante se vê impelido ao
consumo de cigarros, a forma como ele se sente aprisionado e a razão de isso o
impelir à vontade de assassinar o inventor do produto. Logo em seguida, o
espectador é apresentado ao protagonista do filme que é, também, o narrador de
sua própria história. Neste sentido, as inferências da narração em primeira
pessoa podem ser consideradas marcantes para a história, vez que é por meio
delas que Naylor expõe seus pensamentos e, até mesmo, faz breves explanações
acerca dos fatos, contextualizando a história.
O filme começa com a participação de Naylor em um
programa televisivo, em que todos os convidados são contra o tabaco, incluindo
um paciente terminal de câncer de pulmão, com exceção dele próprio. A
animosidade do público com relação ao lobista fica evidente, inclusive, devido
ao silêncio seguido de vaias da plateia que acompanha o programa dentro do
estúdio. Naylor logo expõe suas habilidades com o discurso. Utilizando-se de
argumentos inusitados, o lobista consegue modificar a impressão do público
quanto aos interesses da indústria do tabaco, tendo como ponto central o não
beneficiamento da indústria do tabaco pelas mortes de jovens, como aquele que
estava ali a seu lado. Ao final do debate, Naylor é ovacionado pela plateia
presente.
Na sequência, o espectador é apresentado às demais
personagens centrais da trama, sendo eles chefe de Naylor, Budd "BR"
Rohrabacher (J. K. Simons), seu filho Joey Naylor (Cameron Bright), seus colegas
de profissão Pool Bailey (Maria Bello), lobista da indústria do álcool, e Bobby
Jay Bliss (David Koechner), representante da indústria de armas de fogo, sua
ex-esposa Jill (Kim Dickens) e o namorado, o senador Ortolan K. Finistirre
(William H. Macy), seu principal algoz por encabeçar uma campanha
antitabagista, Doak Boykin (Robertt Duvall), o "capitão". Outras
personagens relevantes para a trama são apresentados ao longo do filme, sendo
elas a repórter Heather Holloway (Katie Holmes), o ex marlboro-man[16]
Lorne Lutch (Sam Elliott) e o produtor de Hollywood Rob Lowe (Jeff Megall).
A despeito do título, nenhuma personagem aparece
fumando durante todo o filme, fato que pode ser relevante na construção
pretendida para a narrativa. A moral e a ética são um dos pontos centrais de
questionamento do filme. Ao longo da trama, vários diálogos incorrem no assunto
que é tratado sob várias perspectivas, evidenciando o problema do consumo e do
capitalismo. O próprio Naylor justifica sua abordagem profissional, considerada
pela opinião pública dentro da trama como inapropriada, com o discurso de que
precisa pagar suas contas. Tal argumento é retomado várias vezes ao longo da
narrativa, seja na fala das personagens, seja nas ações das mesmas, como é o
caso de Lorne Lutch, que aceita o suborno para manter sigilo sobre seu recém
diagnosticado câncer.
A todo momento, o poder de persuasão da personagem é
colocado em evidência, seja em situações que envolvam ou não sua carreira.
Exemplos que corroboram o uso da habilidade para fins distintos são o suborno
ao ex cowboy da Marlboro, Lorne Lutch, e as lições de argumentação dadas ao
filho Joey, à princípio com dificuldades de desenvolver uma dissertação, mas
que acaba por ganhar o prêmio de debates da escola, ao final do filme. A capacidade
de Naylor é posta à prova durante seu tenro relacionamento com a repórter
Heather Holloway que o manipula a fim de conseguir informações sigilosas sobre
sua atuação profissional e o mundo dos negócios por trás das palavras
bem-ditas. O lobista vê-se, então, numa saia justa quando todos os segredos vem
à tona em uma reportagem assinada pela amante que usa seu mesmo argumento para
justificar a publicação da matéria.
Ante à escandalosa exposição dos fatos ocultos da
indústria do cigarro, Naylor é dispensado do trabalho de porta-voz da Academia
de Estudos do Tabaco e vê-se em uma passageira crise que pode ser interpretada
como depressão (a despeito de não haver aprofundamento suficiente no filme que
corrobore esta afirmação). Seu filho, muito mais ciente da habilidade e da
carreira do pai após acompanha-lo em várias de suas viagens e conhecer mais de
perto sua profissão, incentiva-o a voltar à ativa. Fazendo uso de seu dom com
as palavras, Naylor dá a volta por cima, expondo a repórter que usou
manipulação sexual para conseguir informações, e participando da audiência
convocada pelo senador Finisterre, forte ativista contra o tabaco e que conduz
uma campanha para rotular as embalagens do produto com o símbolo gráfico
referente a veneno.
O lobista novamente cai nas graças do público, por
meio da persuasão, o que leva seu antigo chefe a querer recontratá-lo. Mas, em
uma virada, Naylor recusa a oferta e abre sua própria companhia onde,
provavelmente, promove treinamentos dos altos escalões do business. Diz-se, provavelmente, pois isto não é exposto de forma
direta no filme. A última cena da película, no entanto, mostra Naylor em um
escritório bem equipado sentado à mesa com três homens bem vestidos e com idade
acima dos sessenta anos, dando a impressão de serem altos executivos das
indústrias de telecomunicação, fato este evidenciado no diálogo despendido
entre o grupo, vez que Naylor os orienta sobre como lidar com perguntas sobre o
risco de câncer cerebral devido ao uso de aparelhos de telefonia móvel. A
última fala da personagem pode ser considerada um resumo da ideia central da
narrativa, sendo esta: “Michael Jordan joga basquete. Charles Manson mata
pessoas. Eu falo. Todos tem um talento”.
QUADRO 1 – Obrigado por fumar (2005)
Informações técnicas
|
Título original: Thank you for smoking
Data de lançamento:
Abr/2006
Diretor: Jason Reitman
Gênero: Comédia/Drama
Duração: 93 minutos
|
Plot
|
“Comédia satírica que
apresenta as maquinações do porta-voz do conglomerado de indústrias do
tabaco, Nick Naylor, que defende o consumo do cigarro, enquanto tenta ser um
modelo para o seu filho de doze anos de idade”[17]
|
Personagem-objeto
(relações-públicas)
|
Nick Naylor, lobista e
porta-voz do conglomerado de indústrias do tabaco. Seu trabalho é o chamado
"spin control”[18].
Em nenhum momento, Naylor é identificado como profissional de relações
públicas, mas o exercício das funções política e mediadora tornam-se
evidentes na película. É divorciado, pai de um garoto de doze anos e
solteiro. Seu trabalho exige constantes viagens e embates com a opinião
pública. Vive um momento de contradição com a repórter Heather Holloway
(Katie Holmes), por compartilhar segredos de seu trabalho com a jornalista,
que acaba expondo-o em uma matéria.
|
Principais dilemas
éticos
|
A) A flexibilidade
moral de Nick
B) A exposição de uma
criança
C) O uso do sexo como
artifício de beneficiamento
D) O suborno a Lorne
Lutch
|
4.2.2
“Mera coincidência” (Wag the dog,
1997)
Why does
the dog wag its tail? Because the dog is smarter than the tail. If the tail
were smarter, it would wag the dog.[19]
A legenda que marca o início de “Mera coincidência”,
derivada da expressão popular na língua inglesa "the tail wagging the dog"[20],
dá o tom do filme produzido e dirigido por Barry Levinson. Baseado no romance American Hero, de Larry Beinhart, o
longa-metragem traz Robert de Niro no papel de Conrad Brean, um spin-doctor
especializado em gerenciamento de crises políticas. Outro personagem chave da
trama é Stanley Motss (Dustin Hoffman), um produtor de filmes de Hollywood que
é convocado por Conrad para colocar em prática um elaborado plano a fim de
desviar a atenção da mídia e da opinião pública da história de um possível
escândalo sexual envolvendo o presidente dos Estados Unidos em plena campanha pela
reeleição há poucos dias da votação.
Tudo começa em uma sala de reuniões, aparentemente,
secreta. O diálogo que se segue pode deixar o espectador um pouco perdido no
início, pois os personagens não narram o ocorrido, apenas discutem estratégias
que visam conseguir dois dias de escape nos noticiários. Ao final da reunião,
no entanto, pode-se depreender a situação de crise que se estabelece na Casa
Branca. Aparentemente, o presidente em exercício, e que concorre à reeleição,
teria abusado sexualmente de uma "Firefly
Girl", grupo de jovens estudantes menores de idade, que visitava a
sede do Governo. Vale ressaltar que o dito presidente não aparece em nenhum
momento durante os 97 minutos de filme. Isso tudo ocorre menos de duas semanas
antes do dia da eleição.
Para lidar com essa situação, Conrad Brean idealiza
uma falsa guerra contra a Albânia, país pouco conhecido popularmente nos EUA,
esperando que a mídia se concentre na nova história e deixe o escândalo de
lado. Para tanto, o produtor Stanley Motss é contratado para produzir uma
guerra de forma completa, o que inclui música tema e uma filmagem falsa de uma
órfã fugindo da destruição na Albânia. A CIA (Agência de Inteligência Central)
toma conhecimento da conspiração, mas, por meio da argumentação persuasiva,
Conrad consegue convencer o agente Young (William H. Macy) de que revelar a
fraude acabaria prejudicando os interesses da própria agência. A CIA anuncia o
final da guerra, sem desmentir a farsa, o que coloca a equipe de RP em uma
sinuca de bicos, quando a mídia volta seus olhos mais uma vez para o escândalo
envolvendo a Presidência.
É neste ponto que Motss decide inventar um herói de
guerra. O soldado teria sido deixado para trás e, remetendo a ideia de que o
homem teria sido descartado como um sapato velho (old shoe, no inglês), solicita ao Pentágono que forneça um homem
chamado Schumann (Woody Harrelson). O filme mostra o engajamento da população
na história do resgate do soldado, o que inclui a fabricação de camisetas, bottons, música tema (esta produzida
para a ocasião, mas introduzida como antiga), além de manifestações de
patriotismo. Uma curiosidade é que foram, realmente, compostas várias músicas
para reforçar os acontecimentos do enredo. Na pele de Johnny Dean, Willie
Nelson, dá vida a várias canções que embalam a trama. Dentre elas, pode-se destacar “I
guard the canadian border”, “The american dream”, “Good old shoe”, “Courage
Mom”, e “God bless the men of the 303”.
Quando a equipe decide que é hora de apresentar o soldado,
no entanto, acaba por descobrir que ele é, na verdade, um criminoso condenado
com problemas psicológicos, além de sofrer um acidente no caminho para a base
aérea onde o "herói de guerra" seria apresentado. A equipe sobrevive
à queda e é resgatada por um trabalhador rural, em situação ilegal nos EUA. Em
um comércio de beira de estrada, Schumann tenta estuprar a filha de um
fazendeiro que o mata. A saída, então, é encenar um funeral militar, alegando
que Schumann morreu devido aos ferimentos sofridos durante seu resgate. Durante
todo o filme, a campanha de marketing do presidente é mostrada em flashes, sob
o slogan "Don't change horses in
mid-stream"[21].
Durante o funeral fictício, mais uma vez, o comercial
é veiculado, mas desta vez durante um programa de televisão, em que se discute
a efetividade da campanha do presidente, dando crédito à campanha classificada
como ruim por Motss. Neste momento, o produtor declara que irá reivindicar os
créditos da megaprodução da qual aceitou participar sob sigilo. Brean o avisa
que ele está jogando com a própria vida, porém Motss nega-se a retroceder em
sua decisão. Brean determina sua morte que, ao final, é apresentada ao público
como um infarto. O presidente é reeleito com sucesso e um noticiário reporta um
incidente violento na Albânia. O filme, no entanto, não deixa claro se o evento
é real ou apenas a continuação da guerra fictícia.
QUADRO 2 – Mera Coincidência (1997)
Informações técnicas
|
Título original: Wag
the dog
Data de lançamento: Dez/1997
Diretor: Barry Levinson
Gênero: Comédia/Drama
Duração: 97 minutos
|
Plot
|
“Pouco antes de uma
eleição, um “spin-doctor” e um produtor de Hollywood unem esforços para
fabricar uma guerra, a fim de encobrir um escândalo sexual presidencial.”[22]
|
Personagem-objeto
(relações-públicas)
|
Conrad Brean, um
spin-doctor de primeira linha, é trazido à cena para tirar a atenção do
público de um escândalo envolvendo o presidente dos Estados Unidos, poucos
dias antes da eleição, com o objetivo de garantir a permanência do político
no Governo. Pouco é revelado sobre o personagem, sua personalidade,
relacionamentos, etc. O foco está sobre suas habilidades de manipulação da
opinião pública, por meio da criação de fatos, evidenciando as funções
administrativa e estratégica, principalmente. Há outros profissionais
relacionados à area, tal como Winifred Ames, assessora de comunicação da Casa
Branca, além de toda a equipe que participa da trama.
|
Principais dilemas
éticos
|
A) Stanley deseja
receber o crédito pelo sucesso da armação, mas é morto ao invés disso
B) A equipe abusa de
imagens visuais e outros estímulos para enganar o público, em geral
C) A equipe tira
vantagem da imagem de uma pessoa debilitada de suas faculdades mentais (Sgt.
Schumann – Old Shoe)
|
4.2.3
“Jerry Maguire – A grande virada” (Jerry
Maguire, 1996)
Ambientado na década de 1990, o filme de Cameron
Crowe narra a história de um agente esportivo que tem uma reviravolta em sua vida.
Jerry Maguire (Tom Cruise) é um profissional bem-sucedido que está no auge de
sua carreira, trabalhando para uma grande companhia de representação de atletas
chamada Sports Management International (SMI).
Com 72 clientes em sua carteira e recebendo mais de 200 ligações por dia, logo
se tem a percepção de que Jerry é, na verdade, um profissional antiético que
não se importa nenhum pouco com as vidas ou famílias dos atletas, mas apenas
com suas carreiras.
Isso fica claro quando um de seus clientes sofre uma
séria concussão durante um jogo e, durante uma visita ao jogador hospitalizado,
Jerry é confrontado pelo filho do atleta. O filho, preocupado com a saúde de
seu pai, pede a Jerry que oriente o cliente a parar com o esporte. Mas, de uma
forma pouco afetuosa, Jerry responde dizendo que ninguém pode fazê-lo parar de
jogar. O filme possui narrativa em primeira pessoa realizada pelo próprio
protagonista, o que revela mais sobre a personagem. Inclusive, é o que facilita
o entendimento sobre o que ocorre logo no início do filme: uma crise de
consciência.
Dois dias após o encontro com o garoto, Jerry ainda
está pensando sobre quem ele se tornou e qual o seu lugar no mundo. Deprimido com
o resultado de sua vida, ele decide colocar tudo no papel e se sente melhor com
isso. O documento a que ele chama de declaração de missão pessoal, "era o
que eu sempre quis ser" (Jerry Maguire, 1997). Envolvido pelo momento, ele
acaba fazendo mais de cem cópias que são entregues a cada um dos colaboradores
da SMI. Na manhã seguinte, Jerry até tenta voltar atrás, mas todos já haviam
lido o documento e ele é recebido pelos colegas com uma salva de palmas em nome
de sua coragem. Mas, a despeito do reconhecimento, os colaboradores sabem que
aquele é o fim de Jerry na companhia.
O que se segue é a demissão de Jerry anunciada por
seu antigo protegido Bob Sugar (Jay Mohr), que além de demiti-lo ainda leva
toda a carteira de clientes de Jerry junto, deixando o protagonista com apenas
um problemático jogador de futebol americano, Rod Tidwell (Cuba Gooding, Jr.).
Ao deixar o escritório no final daquela tarde, Jerry anuncia que iniciará um
negócio independente, à luz daquilo que escreveu, e conclama àqueles que desejam
ir com ele. Somente, Dorothy Boyd (Renée Zellweger), com quem ele acaba
desenvolvendo um relacionamento amoroso depois, aceita o convite.
A vida de Jerry continua a desmoronar quando o astro
de futebol americano Frank "Cush" Cushman (Jerry O'Connell) também o
deixa em benefício da SMI e, após uma discussão, Jerry rompe com a noiva Avery
Bishop (Kellly Preston). Sozinho, Jerry aproxima-se bastante de Dorothy e seu
pequeno filho Ray (Jonathan Lipnicki) e acaba iniciando um namoro com a viúva.
Mas, devido à péssima maré que o negócio de Jerry enfrenta, Dorothy decide
mudar-se para San Diego, onde recebeu uma oferta de emprego. Confuso como sempre,
Jerry pede-a em casamento mesmo sabendo que não a ama, realmente. Isso fica
claro para a audiência, vez que Jerry, muito mais próximo de Rod, conta ao jogador
sobre seu relacionamento.
Jerry concentra todos seus esforços na carreira de
Rod, que não corresponde em campo. Rod, por sua vez, culpa o agente por não
conseguir um contrato longo o suficiente para ele, o que afeta seu desempenho
nos jogos. No casamento, tudo vai mal. Jerry esforça-se para ser um pai para o
garoto que o conquistou desde o primeiro encontro. Dorothy, porém, acaba por
terminar tudo por acreditar que ele não a ama e que isso não seria justo com nenhum
dos dois ou sequer com Ray, fazendo com que Jerry mergulhe ainda mais na
carreira.
Durante uma Monday
Night Football[23],
Rod é o destaque da partida, mas sofre um ferimento que parece ser bastante
sério. Ele se recupera, no entanto, e mostra seu lado mais carismático para
todo o público e a mídia, dançando ao redor do estádio. Após o jogo, Jerry e
Rod vivem um momento de amizade em frente às câmeras e aos demais atletas que
questionam a razão de não terem um relacionamento sincero e aberto com seus próprios
agentes. Jerry, então, viaja de volta para casa para encontrar Dorothy e reatar
o casamento. Rod ganha um contrato milionário com o Cardinals, o que garante sua aposentadoria pelo clube, agradecendo
a toda sua família e amigos e creditando Jerry pelo sucesso da conquista.
O filme termina com uma cena cômica do jovem Ray
arremessando uma bola de beisebol de volta a um campo onde alguns garotos
treinam. Surpreendido pelo talento dele, Jerry conversa com Dorothy sobre a
possível futura carreira de Ray. Um dos pontos altos do filme é a contínua
inserção de comentários feitos por Dick Fox, o mentor de Jerry. Aparentemente,
o agente sempre se lembra do veterano com suas frases feitas, mas que carregam
boas orientações e dão a tônica do filme que pode ser compreendido como um
elogio àqueles que tem coragem de mudar em favor do bem, mesmo que isso
implique em vários percalços pelo caminho.
“Hey, I
don’t have all the answers. In life, to be honest, I failed as much as I have
succeeded. But I love my wife. I love my life. And I wish you my kind of
success”[24] (Dick Fox, em Jerry Maguire, 1996).
QUADRO 3 – Jerry Maguire, A grande virada (1996)
Informações técnicas
|
Título original: Jerry
Maguire
Data de lançamento:
Dez/1996
Diretor: Cameron Crowe
Gênero: Comédia/Drama/Romance
Duração: 139 minutos
|
Plot
|
“Quando um agente de
esportes tem uma epifania moral e é impelido a expressá-la, ele decide
colocar sua nova filosofia em prática de forma independente com apenas um
atleta que permanece com ele”[25]
|
Personagem-objeto (relações-públicas)
|
Jerry Maguire é um
assessor de comunicação de atletas, identificado no filme como sports agent. Jerry é bem-sucedido em
sua carreira, mantendo 72 atletas como clientes. Ele é contratado da SMI,
especializada em representar atletas. Jerry tem reconhecimento nacional por
seu trabalho, mas por obra de uma crise de consciência acaba demitido e às
voltas com apenas um cliente. A personalidade de Jerry mostra-se bastante
volúvel durante toda a trama, a depender das situações vividas pelo personagem.
Identifica-se o personagem como RP pelo exercício das funções política e
mediadora, principalmente.
|
Principais dilemas
éticos
|
A) A forma como Jerry
cresceu em sua profissão
B) O roubo de clientes
efetuado pelo colega Bob Sugar, após demitir Jerry
C) A vida amorosa de
Jerry
D) A preferência de
Jerry em tratar dos negócios referentes a Cush, em detrimento de Rod
|
4.2.4
“Hancock” (2008)
Hancock é um filme de super-herói que traz uma
proposta um pouco diferente daquela que o público já conhece, já que o herói em
questão tem um comportamento questionável. John Hancock (Will Smith) mora em
Los Angeles e tem um histórico bem ruim com a cidade, já que todas as vezes que
decide fazer algo para proteger os cidadãos, acaba dando prejuízos milionários.
O filme dirigido por Peter Berg, traz ainda Charlize Theron, Jason Bateman e
Eddie Marsan em seu elenco. A história, originalmente escrita por Vincent Ngo
em 1996, gira ao redor do herói às avessas que dá nome ao filme: um alcóolatra
com superpoderes, que incluem a capacidade de voar, invulnerabilidade e
super-força. Por estar sempre embriagado, Hancock não consegue realizar nenhuma
boa ação sem provocar danos. Como resultado disso, ele é constantemente
escarnecido pelo público, tendo um histórico péssimo de relacionamento com a
polícia, inclusive. Hancock também ignora todas as intimações judiciais que já
foram enviadas a ele em nome da cidade de Los Angeles.
A vida do herói, no entanto, pode mudar quando ele
salva um relações-públicas de um acidente de trem. Após mais uma de suas
reuniões em que não obteve sucesso tentando convencer executivos sobre seu selo
All-Heart (trata-se de uma proposta de identificar empresas que pratiquem
responsabilidade social), Ray Embrey (Jason Bateman) fica preso em uma ferrovia
com um trem de carga que se aproxima. Hancock o salva, mas causa o
descarrilamento do trem e ainda provoca ferimentos em outro motorista que
estava logo atrás de Ray. Por isso, é ovacionado com insultos por todos ali.
Ray, porém, toma a frente e agradece ao anti-herói por ter salvado sua vida.
Com visão estratégica, o relações-públicas oferece seus serviços para melhorar
a imagem de Hancock, que aceita a oferta meio a contragosto.
Por meio de argumentação e um plano estratégico, Ray
convence o herói a entregar-se à Justiça para cumprir sua pena, com o objetivo
de mostrar a todos o quanto a cidade precisa dele. Após a prisão do herói, a
taxa de criminalidade sobe assustadoramente, e ele é convocado pelo chefe de
polícia. Agora com um novo traje, dado por Ray, Hancock intervém em um assalto
a banco, resgatando um policial e parando o chefe dos ladrões, Red Parker
(Eddie Marsan). Após esse episódio, como Ray previra, Hancock torna-se popular
na cidade.
O filme sofre uma reviravolta quando Hancock conhece
a esposa de Ray, Mary (Charlize Theron), que revela a imortalidade de John e
sua amnésia, que já dura 80 anos. O herói também descobre que Mary possui
superpoderes. Ele ameaça expô-la, se ela não explicar suas origens. Então, Mary
conta a ele que eles vivem há três mil anos e que são os últimos de sua
espécie. Ela não conta, no entanto, toda a verdade e Hancock sai para contar a
Ray o que descobriu, o que desencadeia em uma luta corporal entre os dois que
causa danos significativos ao centro de Los Angeles, onde Ray participa de mais
uma de suas reuniões pelo All-Heart. O relações-públicas reconhece a esposa.
Em um assalto a uma loja de bebidas, Hancock é
baleado e seriamente ferido, o que deixa a todos surpresos. Mary tem a
resposta: quando o par de imortais se aproxima, eles começam a perder seus
poderes. Foi o que aconteceu 80 anos antes, quando Hancock foi atacado em um
beco e severamente ferido, levando-o a amnésia. Mary, à época, achou melhor
abandoná-lo para que ele pudesse se recuperar de seus ferimentos. Ainda no hospital,
Red Parker volta para finalizar o trabalho, acompanhado de dois outros
criminosos humilhados pelo herói em seu tempo na prisão. Hancock consegue parar
dois deles, mas Mary acaba sendo mortalmente ferida por um tiro. Ray entra em
cena e mata Parker com um machado de incêndio. Para que Mary possa recuperar-se
do ferimento, ferido e sem energia, Hancock esforça-se para se afastar do
hospital.
Ao final do filme, Hancock aparece em Nova Iorque,
combatendo o crime. E, em gratidão à intervenção efetiva de Ray em benefício de
sua imagem, o herói pinta o selo All-Heart na lua, como um elogio à visão de
negócio do relações-públicas. O filme acaba com uma cena de perseguição em Nova
Iorque, com Hancock encurralando um criminoso. Apesar de não ser centrado na atividade
de Relações Públicas, Hancock (2008)
é tido como um bom exemplo da indústria cinematográfica sobre a atuação dos
profissionais da área. De forma pouco comum, o filme retrata a profissão sob
uma perspectiva que pode ser considerada bastante positiva, dando ao personagem
titular da atividade até mesmo um tom de idealismo utópico que o torna cômico
de certa maneira.
QUADRO 4 – Hancock (2008)
Informações técnicas
|
Título original:
Hancock
Data de lançamento:
Jul/2008
Diretor: Peter Berg
Gênero: Ação/Fantasia
Duração: 92 minutos
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Plot
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“Hancock é um
super-herói cujo mau comportamento causa danos na casa dos milhões,
regularmente. Ele se transforma quando uma pessoa que ele salva ajuda a
melhorar sua imagem pública”[26]
|
Personagem-objeto
(relações-públicas)
|
Ray Embrey é um
relações-públicas qualificado e ético, que encontrou sucesso na profissão e
na vida pessoal, sendo um marido e pai feliz. Ele trabalha, principalmente,
para organizações sem fins lucrativos e sua visão é a de "salvar o
mundo". Ele próprio tenta vender uma ideia batizada de All-Heart, uma
espécie de selo para as corporações que possuem consciência social e
ambiental. Ao longo do filme, Ray não se deixa abater pelas portas fechadas e
sempre mantem uma postura otimista frente a todas as circunstâncias. Ele se
mostra bastante persuasivo com seu cliente, o super-herói às avessas John
Hancock (Will Smith), e consegue persuadi-lo a mudar sua postura frente à
opinião pública. Além de ser nomeado pelo próprio enredo como
relações-públicas, Embrey desempenha as funções mediadora e estratégica ao
longo da trama, o que permite sua identificação enquanto profissional em
exercício.
|
Principais dilemas éticos
|
A) A desaprovação dos
executivos a quem Ray apresenta a iniciativa All-Heart
B) Ser grato ou não? O
salvamento problemático que Hancock faz da vida de Ray
C) A série de danos
causados pela atuação problemática de Hancock e as implicações legais
|
4.5
Apreciação comparativa dos filmes observados
A figura do relações-públicas no cinema tem sido
explorada desde os primórdios mesmo que não declaradamente, como é o caso do
observado em três dos quatro filmes contemplados por esta pesquisa. O fato é
que, como escreve Peña, “o cinema contribui para o modelo ou para o estilo de
vida juntamente com outros Media. As mensagens podem repetir-se durante anos,
como é o caso da moda do panteísmo New Age ou da ecologia” (2010, p.46). Essa
autoridade exercida pela produção midiática, incluindo-se o cinema, como observa a autora, poderia ser tomada como indício da
tentativa de formação de uma opinião generalizada ou consensual, o que levaria
à dominação de apenas uma voz. “Se acontecesse de tal modo que apenas uma
prevalecesse, considerar-se-ia que esta provocaria mudanças tanto na Opinião
Pública, como no campo legislativo e educativo” (2010, p.47).
E é esta prevalência que, na visão de Peña, ocasiona
a legitimação de valores difundidos. É sob esta perspectiva que a autora nota a função educativa do cinema, uma vez que este “contribui
para criar um contexto cultural, e possui um papel educativo e socializador”
(PEÑA, 2010, p.52). Isso ocorre, de acordo com a autora, pois a imagem na tela
possibilita ao espectador refletir mais e visualizar de forma mais clara do que
nos outros meios a mudança social. Em decorrência disto, é que a pesquisadora
acredita que o cinema deva ser estudado como lugar de educação, uma vez que “se
ampliou o sentido de autoridade a outras personalidades onde a imagem social
dos Meios de Comunicação se impôs e ocupou um lugar proeminente" (PEÑA, 2010,
p.53). É este questionamento que orienta a presente pesquisa.
Até que ponto o cinema inculca uma imagem do
profissional de relações públicas no imaginário coletivo? E que imagem é essa?
A partir da análise dos filmes apreciados para a composição deste trabalho,
verifica-se vários pontos de semelhança entre as personagens identificadas como
profissionais de relações públicas em atividade. Em uma pesquisa conduzida por
Cabezuelo e Peinado, em que foram analisados mais de quinze títulos do cinema
hollywoodiano que trazem personagens que são identificados como no exercício da
atividade de relações públicas, verificou-se que 90% das figuras que
representam os profissionais da área exercem "tarefas que não são próprias
das relações públicas, e em apenas 30% dos filmes são nomeados explicitamente
como relações públicas” (CABEZUELO; GONZÁLVEZ, 2014, p.72).
Para os pesquisadores, isto justifica o fato de a
opinião pública ainda ter dificuldades em delinear a atividade. Pois, não é “estranho
que o público alheio ao contexto profissional das relações públicas mantenha
uma percepção errónea da atividade destes trabalhadores, formada a partir do
visionamento destes e de outros filmes" (ibid). De acordo com Terceño, “o
cinema tendeu à hipérbole e à construção de estereótipos para facilitar a
compreensão das suas mensagens e personagens” (CABEZUELO; GONZÁLVEZ, 2014, p.
253). Por essa razão, o autor considera que se pode presumir “que a imagem que
oferecem dos profissionais das Relações Públicas se afaste bastante da
realidade, ainda que em alguns casos, a realidade supere a ficção
narrativa" (ibid).
Neste sentido, o verificado a partir da análise dos
quatro longas, é que os relações-públicas são figuras masculinas, bem
apessoadas, seguras de si e que demonstram estar no auge de suas carreiras.
Estas características são descritas por Cabezuelo e Peinado (2014) em sua
pesquisa. De acordo com o estudo, “um estereótipo frequente é que as relações
públicas constituem um sector profissional
interessante porque se conhece gente atrativa e excitante, porque se vai a
festas e, de um modo geral, porque se tem uma intensa vida social"
(CABEZUELO; GONZÁLVEZ, 2014, p.51). Nick Naylor e Jerry Maguire personificam
esses estereótipos muito bem.
Apesar dos filmes que os dois protagonizam não manterem
seu foco nessa característica em particular, apresentando cenas excessivas de
comemorações, entre outras coisas que correspondam imageticamente a este apelo,
ambos são apresentados como figuras carismáticas, com muitos contatos e
desenvoltura para atividades sociais intensas. Como fica explícito, por
exemplo, na sequência em que Jerry passa pelo lobby com Rod Tidwell. No caso de
Nick Naylor, pode-se citar o encontro com Jeff Megall (Rob Lowe), um
concorridíssimo e bem-relacionado produtor de Hollywood que pode providenciar o
que Naylor busca da indústria cinematográfica.
Caldevilla chama a atenção da análise de filmes
dentro dos parâmetros dos estereótipos, “já que o cinema como gerador de
histórias também se apresenta como demiurgo de personagens e estas como
matrizes de figuras profissionais que só possuem um certo grau de correspondência
com a realidade” (CABEZUELO; GONZÁLVEZ, 2014, p. 218). Isso porque, o cinema
possui, em si, um caráter educativo o que pode levar o público “a esperar que
as suas expectativas cinematográficas a respeito sejam cumpridas, incidindo no
grau de verossimilitude das personagens e ações do filme a respeito delas”
(ibid). Isso se torna, especialmente, perigoso, do ponto de vista de
Caldevilla, já que o público não pode ter acesso “ao conhecimento do trabalho
dos verdadeiros profissionais, e assim confirmar ou não a veracidade
cinematográfica" (ibid).
Conforme a pesquisa conduzida por Cabezuelo e
Peinado, a maioria dos personagens em filmes usam artifícios como a deturpação,
o exagero e a mentira em seus discursos e argumentações. E isso não se resume,
apenas à vida profissional, mas se estende aos relacionamentos. A porcentagem
verificada pelos pesquisadores, neste caso, chega a 37,5% dos filmes
analisados. E, de acordo com os autores, “em todos os casos, a dita personagem
reúne o resto das qualidades: é manipuladora, competitiva e carece de ética
profissional” (CABEZUELO; GONZÁLVEZ, 2014, p.64). Além de apresentar uma
notável habilidade para enganar as pessoas.
Em contrapartida, tem-se a apresentação diversa do
relações-públicas de Hancock. Ray Embrey é desenhado como uma figura
extremamente ética e que busca reafirmar os valores de responsabilidade social
por meio de sua atuação. O selo criado pelo relações-públicas é um exemplo
desse exercício otimista de função. All-Heart traz, em si, a proposta de
ajustamento de conduta por parte das empresas. Chega a ser cômica a cena em que
Ray explica a um executivo o que a marca representaria. Em termos concretos,
nada. Mas, o valor estaria localizado justamente no campo subjetivo. O conceito
pode até ser complicado para os leigos e se mostra como uma das barreiras da
área que, essencialmente, trabalha com produtos imateriais, isto é, ideias,
estratégias, planejamentos, etc.
Qual o sentido, no entanto, de estabelecer uma
conexão de humor com a audiência, neste sentido? Não estaria o cinema criando,
a partir daí, mais um estereótipo para a categoria? Desta forma, o idealismo
poderia, então, ser considerado essa nova marca que começa a surgir nos
retratos cinematográficos da profissão. Mesmo que não gere crítica, aos olhos
da audiência cria-se uma imagem de um indivíduo que vive fora da realidade do
capitalismo em que a sociedade está inserida, atualmente. Um profissional tão
ligado ao campo das ideias, que vê sua atuação efetiva como utopia,
necessitando da “ajudinha” de um super-herói para conseguir visibilidade à sua
marca. Neste sentido, a visão negativa sobre a profissão continua presente na
telona, mas apresentada sob outra roupagem.
Do ponto de vista ético, à exceção de Ray Embrey,
personagem do filme Hancock (2008), todas as outras apresentam desvios de
comportamento em relação a este aspecto. Isso fica evidente tanto nos diálogos,
quanto nas decisões tomadas pelas personagens. Pode-se citar como exemplo a
forma como Nick Naylor, protagonista de “Obrigado por fumar” (2006), procura
incutir em seu filho Joey uma flexibilidade moral – fato este que se manifesta
no discurso[27]
do próprio garoto, que repete uma frase sempre dita pelo pai na busca por
tentar motivá-lo a voltar à atuação, após o escândalo da reportagem que o
expôs.
Já em “Mera Coincidência” (1997), Conrad Brean não
hesita em criar uma guerra fictícia para encobrir um escândalo envolvendo a
Presidência. Desde o início, Brean não esconde sua intenção de manipular a
opinião pública por meio da falsificação de fatos. Aliás, chega até a
verbalizar[28]
isso para a equipe, oito dias antes da eleição. A ação do relações-públicas
efetiva-se totalmente arbitrária à ética do relacionamento com a imprensa desde
o princípio e, a cada nova situação problema, o profissional não teme em
fabricar novos fatos para chegar ao fim desejado, isto é, a reeleição do
presidente em exercício.
Jerry Maguire, do filme homônimo, vive uma antítese.
Pintado como um profissional arbitrário no início do longa, vivencia uma
transformação ao longo da sequência. Sua postura, no entanto, mostra-se confusa
e insegura em vários momentos da trama, colocando frente à dilemas éticos para
os quais, na maior parte das vezes, ele reage de maneira negativa. De fato,
apenas no final do filme, a personagem consegue alcançar a redenção e,
realmente, praticar todas aquelas metas pessoais que havia traçado no início da
narrativa e que lhe custaram tanto. Como escrevem Cabezuelo e Peinado:
este é
um filme que de modo singular purifica a imagem dos RP. Neste sentido, esta
fita redime-os através do protagonistas Jerry Maguire que é capaz de enfrentar
a política ética de uma grande companhia. Muda de normas éticas e adota os
valores mais justos, escapa do sistema estabelecido pelas grandes empresas no
campo desportivo e sobrevive profissionalmente criando uma pequena empresa. Ele
estabelece os seus próprios princípios e a sua filosofia específica, com as
relações interpessoais como eixo central de toda a sua atividade (CABEZUELO;
GOZÁLVEZ, 2014, p. 45)
Quanto aos dilemas éticos, elencados nesta pesquisa e
apresentados nos quadros referentes a cada filme, passa-se agora a discorrer
acerca de cada um e de que forma estes foram solucionados em cada película.
A) Obrigado
por fumar (2004)
I.
A flexibilidade moral de Nick
O questionamento a que Nick mais é submetido ao longo
do filme é sobre a sua capacidade em colocar de lado valores e princípios, a
fim de realizar seu trabalho. Ora, Nick representa a indústria do cigarro, o
que é problemático, por si só, já que o número de mortes por uso continuado da
droga lícita é altíssimo, como o próprio personagem afirma. Para justificar,
Nick usa a questão financeira. Mas, a verdade que fica evidente em seu discurso
é a flexibilidade moral do relações-públicas, a qual ele não vê como um
problema, mas até incentiva o filho a manter a mesma postura na vida.
II.
A exposição de uma criança
Constantemente, Nick se vê em situações problemáticas
envolvendo seu filho. Em busca de melhorar seu relacionamento com o garoto,
Nick passa a incluir Joey em várias de suas atividades profissionais, o que se
torna perigoso em algumas circunstâncias e pode ser moralmente questionável do
ponto de vista da educação que, enquanto pai, está proporcionando ao filho. O
lobista tem a oportunidade de consertar essa situação no final do filme, ao
rejeitar a oferta de emprego na Academia, sem abrir mão da profissão que tanto
domina.
III.
O uso do sexo como artifício de beneficiamento
Heather Holloway é a protagonista deste dilema. Em
busca de um furo jornalístico, Heather coleciona entrevistas sobre a indústria
do tabaco. Desde o início, ela deixa claras suas intenções em escrever uma
matéria negativa sobre o conglomerado. No entanto, acaba ludibriando Nick por
meio de um relacionamento sexual, e obtém informações sigilosas do porta-voz da
indústria. Heather o expõe publicamente em uma reportagem, o que deixa Nick sem
emprego. Mas, numa reviravolta, Nick usa seu principal dom para alterar a
situação, expondo-a publicamente – numa atitude pouco ética, vale ressaltar.
Desta vez, é Heather quem colhe os frutos ruins, tornando-se correspondente de metereologia.
IV.
O suborno a Lorne Lutch
Lorne Lutch é o antigo caubói da Marlboro, consagrada
e tradicional marca de cigarros. Diagnosticado com câncer em estágio terminal,
devido ao uso contínuo do tabaco, ele ameaça expor o fato à mídia, o que
provocaria uma série crise de relações públicas para a indústria. Sendo assim,
o chefe de Nick solicita que ele vá até o rancho do caubói e lhe entregue uma
quantia alta em dinheiro, quer ele queira, quer não. Para agravar a delicada
situação, Nick está acompanhado de Joey, que acompanha de perto a transação e
ainda acaba aprovando a atuação do pai no caso.
B) Mera
coincidência (1997)
I.
Stanley deseja receber o crédito pelo sucesso da armação,
mas é morto ao invés disso
O produtor Stanley Motss entrega-se totalmente à
fraude planejada pela equipe de relações públicas da Presidência dos Estados
Unidos. Em Hollywood, os produtores não recebem reconhecimento, tal como outros
profissionais envolvidos na indústria cinematográfica. Quando Motss se depara
com um programa de televisão que atribui o crédito da reeleição do então
presidente à campanha, por ele considerada, patética, o produtor deseja receber
o crédito pelo trabalho executado. O que ele recebe, no entanto, é a morte.
II.
A equipe abusa de imagens visuais e outros estímulos para
enganar o público, em geral
Vários recursos são utilizados com o fim de distrair
e enganar a opinião pública. Dentre eles, a produção de imagens falsas de uma
suposta jovem albanesa que foge de sua aldeia destruída pelos rebeldes, e a
fabricação de músicas para embalar o espetáculo armado pelos relações públicas.
Outros dois exemplos são a menina albanesa que espera pela chegada do
presidente no aeroporto e o presenteia com o primeiro molho da colheita, e a
foto encenada do Sgt. Schumann com uma jaqueta furada em forma de Código Morse,
onde se leem as palavras “Courage Mom”. A armação é mantida até o final e fica,
até mesmo, confuso para o espectador se a fraude ainda permanece em andamento,
com a apresentação de um noticiário em que se fala sobre um incidente violento
na Albânia.
III.
A equipe tira vantagem da imagem de uma pessoa debilitada
de suas faculdades mentais (Sgt. Schumann – Old Shoe)
O Sgt. Schumann é um homem com problemas
psiquiátricos que se encontra encarcerado em uma prisão militar por estuprar
uma freira. Ele é indicado para a equipe de relações públicas, somente devido a
sonoridade de seu nome, que lembra “shoe”
(sapato, em inglês), o que se adequa exatamente à metáfora do homem deixado
para trás. De fato, a equipe só toma conhecimento de sua condição quando o
conhece, a caminho do evento que apresentaria o soldado resgatado à população e
à mídia. Mas, mesmo sua condição não se mostra impeditivo para a encenação que
se segue. Além disso, a despeito do acidente de avião que os deixa isolados em
uma área rural, situação que acaba culminando na morte de Schumann, quando este
tenta violentar a filha de um local, o espetáculo transcorre, normalmente, com
algumas adaptações emergenciais – no caso, um célebre funeral militar.
C) Jerry
Maguire - A grande virada (1996)
I.
A forma como Jerry cresceu em sua profissão
Jerry Maguire é um profissional de sucesso no ramo de
agenciamento de atletas. Mas, sua postura e comportamento estão longe de ser
considerados éticos. Pelo contrário, Jerry é apresentado como um profissional
extremamente focado em sua carreira e nos benefícios de seu exercício. Enquanto
agente, Jerry não considera as questões pessoais de seus clientes, mas apenas
os estimula a dar continuidade em suas atividades a fim de ganhar mais dinheiro
e reconhecimento. Isso começa a mudar com a crise de consciência que lhe
acomete e a consequente perda de todas suas conquistas profissionais e
pessoais. No entanto, é apenas no final do filme que pode ser identificada a
real mudança no comportamento do relações-públicas, no abraço sincero que ele
troca com seu agenciado Rod Tidwell, após uma partida excelente do jogador de
futebol americano.
II.
O roubo de clientes efetuado pelo colega Bob Sugar, após
demitir Jerry
Bob Sugar é agente esportivo, assim como Jerry. O
filme dá a entender que o rapaz, visivelmente mais jovem do que Jerry, era o preferido e protegido do protagonista.
Mas, é ele mesmo o designado para demitir o colega e amigo, quando este expõe
em uma declaração de missão sua visão sobre a carreira deles. Além disso, Sugar
encarrega-se de enlaçar toda a carteira de clientes de Jerry, usando mentiras e
críticas para desacreditar o veterano. A postura de Sugar é questionada no
final por um de seus próprios clientes que vê a sinceridade do relacionamento
de Jerry com Rod. O filme passa a impressão de que aquele atleta busca, mais
tarde, o agenciamento de Jerry.
III.
A vida amorosa de Jerry
Em sua despedida de solteiro, Jerry vê-se confrontado
por todas suas ex-namoradas em um vídeo produzido por seus amigos. As mulheres
falam da falta de sinceridade do agente e de sua necessidade de estar sempre
com alguém, mesmo que não tenha sentimentos reais pela pessoa. Isso fica claro
quando Jerry decide romper com Avery, sua noiva, dizendo a ela que não a ama.
Jerry torna a repetir o mesmo comportamento, mas desta vez com Dorothy. Neste
caso, a situação fica um pouco mais complicada em razão do filho da
contabilista, Ray, e pelo fato do relacionamento culminar em um casamento real.
Jerry casa-se com Dorothy apenas para que ela não se mude para San Diego. Mas,
isso se torna um problema na vida do casal, já que Jerry não tem certeza sobre
seus sentimentos. O personagem redime-se no final, voltando para casa e
reatando o relacionamento com a esposa.
IV.
A preferência de Jerry em tratar dos negócios referentes a
Cush, em detrimento de Rod
Quando Jerry perde o emprego, apenas dois atletas
permanecem com ele, Rod Tidwell e John Cushmann. Cush é um astro reconhecido e
aclamado pela mídia e isso faz com que Jerry dedique-se muito mais a carreira
dele do que a de Rod – um jogador que, inclusive, tem problemas com a mídia
devido a sua agressividade. Em um evento esportivo, no entanto, Jerry
aparentemente inspirado e motivado, dedica parte de seu tempo a Rod, fazendo
prospecções junto a possíveis patrocinadores e estreitando o contato com a
mídia. Isso deixa o pai de Cush irritado, levando-o a assinar um contrato com a
SMI por intermédio de Bob Sugar. A escolha profissional de Jerry, no entanto,
mostra-se acertada quando vários atletas e colegas o parabenizam pelo trabalho
desempenhado junto a Rod, que culmina em um contrato satisfatório para o
atleta.
D) Hancock
(2008)
I.
A desaprovação dos executivos a quem Ray apresenta a
iniciativa All-Heart
Ray Embrey é um profissional autônomo que, em sua
maioria, presta serviços a organizações não-governamentais. O
relações-públicas, no entanto, cria um selo que imbuiria as marcas que o
usassem de um valor imaterial importante, fazendo referência à consciência
ambiental e ecológica e a responsabilidade social. Ele apresenta sua ideia a
vários executivos, de várias companhias. Mas, sempre é presenteado com um
sonoro não, embalado por risadas de quem não valoriza esse tipo de iniciativa.
Ray, no entanto, não desiste de seu ideal de tornar o mundo um lugar melhor. E,
ao ajudar Hancock, ele conquista o reconhecimento em forma de seu selo grafado
na própria lua pelo super-herói.
II.
Ser grato ou não? O salvamento problemático que Hancock faz
da vida de Ray
Após mais uma de suas reuniões com executivos, Ray se
vê fechado em uma ferrovia, com um trem de carga vindo em sua direção. Hancock
o salva, provocando uma série de danos, que incluem o descarrilamento do trem e
ainda ferimentos ao motorista que prendia o carro de Ray por trás. A reação de
todos os presentes é tratar Hancock com hostilidade. O relações-públicas,
contudo, vê nisso uma oportunidade e, após agradecer pelo ato do super-herói,
oferece seus serviços para ajudá-lo a melhorar sua imagem frente à opinião
pública. Os esforços de Ray mostram-se eficazes quando Hancock torna-se popular
na cidade.
III.
A série de danos causados pela atuação problemática de
Hancock e as implicações legais
Hancock é um herói às avessas. Sempre que ele decide
ajudar, acaba provocando uma série de problemas à cidade. Os danos materiais
ultrapassam a casa dos milhares, sem contar nos ferimentos que seus salvamentos
acabam provocando aos cidadãos resgatados. Isso resulta em uma série de
intimações judiciais, às quais o super-herói não atende. É somente após ouvir a
argumentação de Ray que Hancock entrega-se à justiça e é preso. Claro que ele
se mantém na prisão por boa vontade e compromisso com seu agente, já que possui
várias habilidades com as quais poderia sair dali, rapidamente. Sua boa ação é
recompensada com confiança por parte das autoridades, que o “libertam” quando a
taxa de criminalidade dispara na cidade.
A exposição dos dilemas éticos a que as personagens
analisadas estão expostas em seus respectivos filmes demonstra como os
profissionais de relações públicas são constantemente desafiados a se
posicionar frente a questões de difícil resolução. O que se pode verificar ante
o exposto é, mesmo que os problemas apresentados sejam distintos, em sua
maioria a reação dos relações-públicas retratados pelo cinema é a mesma, isto
é, uma má postura. Em Jerry Maguire e Obrigado por fumar, vê-se a mudança de
atitude dos personagens ao longo dos filmes. Tais transformações, no entanto,
quando ocorrem, são gradativas e contínuas, apresentando resultados distintos
apenas no final.
No caso do lobista Nick Naylor, vale destacar, a
mudança nem é tão grande assim. Na verdade, ele se beneficia muito mais do uso
eficaz de suas técnicas de comunicação persuasiva, do que modifica
comportamentos. Já Jerry Maguire vive, realmente, a jornada do anti-herói que
se redime de todos males no final da película. Em contrapartida, Conrad Brean
nem chega a cogitar atitudes éticas. É claro que o filme se apresenta como uma
crítica mordaz ao comportamento antiético de profissionais da mídia. No
entanto, vale questionar se o estereótipo invocado pela personagem não se
tornou tão grande, que ocultou a condenação por detrás da perpetuação desta
visão distorcida dos profissionais que atuam na área.
Ray Embrey é a antítese de todos. Otimista, ético,
centrado no bem-estar coletivo, e comprometido com a opinião pública, Ray
trabalha para a sociedade. Sua atuação junto a Hancock, pode-se inferir, teve
motivações além de ajudar o herói, pretendendo beneficiar a cidade como um
todo, quando de um super-herói comprometido com o todo. Ele reage bem a todas
as situações, inclusive quando descobre que sua esposa é, na verdade, o par de
seu cliente. É bom pai, bom marido, consciente e idealista. Ray deseja, mesmo,
tornar o mundo um lugar melhor. Um indivíduo que vive uma utopia. Mas, não
seria essa, também, uma forma negativa e depreciativa de se retratar a
categoria?
5 CONSIDERAÇÕES
Qual o limite entre a total falta de moral e a ética
utópica praticada a ferro e fogo? Este é o ponto central deixado pela
comparação entre os quatro filmes contemplados em análise por esta pesquisa.
Tem-se personagens totalmente opostas que, se colocadas em um só universo,
viveriam em profundo confronto, pois não saberiam como lidar umas com as
outras. Conrad Brean e Ray Embrey parecem ser os extremos opostos de um só
indivíduo. Como ying e yang não se misturam, mas vivem em
conflito existencial, a depender do próprio sujeito a escolha que fará, para o
bem ou para o mal.
A grande questão é que a vida não pode ser tomada por
essa dualidade criada e disseminada pela narrativa cinematográfica da luta
entre o bem e o mal. A única dualidade que pode ser contemplada, neste sentido,
é aquela proposta por Santos (2005), que diz respeito ao processo de formação
da identidade do sujeito. Sendo assim, não há razões para existir um
profissional totalmente imoral, assim como não faz sentido que outro seja
totalmente ético. O cinema faz pensar assim, pois se utiliza de representações
simplificadas de ideais. Isso porque, o aparato não tem a capacidade de ir
muito além disso. Sua essência é a representação.
Logo é de se esperar que os estereótipos sejam a base
de sua criação. Estes não são de todo ruins. Como observa Baccega (1998), podem
ser manifestados na forma de conhecimento prévio, garantindo que não estejamos
numa constante descoberta daquilo que já se conhece, ou na forma de juízos de
valor preconcebidos – esta sim, uma maneira negativa, vez que gera preconceitos
e podem ser usados como forma de discriminação e exclusão sociais. O retrato
pintado pelo cinema dos relações-públicas, assim como de todas outras
identidades sociais representadas na tela, passa por esse processo e, por isso,
não poderia ser tomada como verdadeira.
Ora, a imagem dos profissionais de Relações Públicas,
assim como os das demais áreas de atuação, está sujeita a uma série de fatores.
A visão de si mesmo dentro de um grupo, a visão do grupo enquanto coletivo, e a
visão da sociedade em relação ao grupo são fatores que contribuem e, como
exposto por Baccega (1998), influem diretamente na construção dessa identidade.
Note-se que, na visão da autora, esta constituição se dá primeiro
individualmente, partindo para o coletivo particular e chegando ao coletivo
geral para, mais uma vez, retornar à dimensão individual, onde se consolida.
Sem uma definição comum para o próprio campo de
atuação, os relações-públicas veem-se, então, imersos num processo ainda mais
delicado, no qual a percepção transmitida da mídia e seus produtos acaba
assentando-se como mais uma etapa neste processo, influenciando a forma de
interpretação da atividade pela sociedade que, por sua vez, constrói em seu
imaginário coletivo uma representação social para a profissão balizada nesta
intervenção. Neste sentido, o processo observado por Baccega (1998) inverte-se,
partindo do generalizante para o individual, criando um problema: afinal, onde
ocorre, então, a consolidação?
Necessário é que os profissionais retomem esse
processo para si. O campo de Relações Públicas só possui a imagem que está em
evidência na sociedade, porque admitiu que a função de definição do que é e o
que faz o relações-públicas passasse a outrem. O cinema, então, poderia ser
culpado por não buscar a informação, quando esta não é disponibilizada com
segurança e clareza por aqueles que a detém? O aparato cinematográfico, além de
ser um fruto midiático, busca amparar nas representações sociais a criação de
seus produtos.
Apesar de ter a faceta de arte (e aqui, não se busca
desmerecer a estética do filme), em si, não possui a capacidade de
aprofundamento, não passando de uma representação superficial da realidade
complexa, tal como escreve Bernadet (1980). Nesse ato de representar está imbuído
um ordenamento em que a realidade é lida, interpretada, fragmentada,
reconstruída e, só então, apresentada ao público. Claro, então, é que se perdem
muitos aspectos neste processo. Assim, o papel de fiscalizar e fomentar a
representação que mais se assemelhe ao grupo deveria ser do próprio coletivo,
deste modo.
Vez que o cinema não pode, devido à sua própria
configuração, realizar essa busca – e se pode, há limitações, pois ainda que
busque, a fonte não está disponível –, os relações-públicas é que deveriam
fornecer sua identidade para o aparato, e não o contrário. E o que se vê no
âmbito profissional, é a apropriação destas representações cinematográficas
pelos próprios indivíduos. Em uma simples busca com palavras-chave relacionadas
a essa discussão na Internet, vê-se a validação dos filmes aqui analisados – e
considerados como formas de representação pouco representativas da categoria –,
chegando ao ponto de serem recomendados aos profissionais como formas legítimas
e, até mesmo, ideais de atuação. Isto é nada mais do que cinema definindo a
identidade do indivíduo.
O cinema, assim, acaba longe de sua função de
problematizar as questões pertinentes à sociedade, fomentando o debate e
estimulando a reflexão. Pois, sua pretensão é imitar a realidade e não a construir.
A partir do momento que uma categoria permite que a representação feita pelo
aparato se torne sua verdade, então há um problema instaurado, porque esse
grupo jamais poderá identificar-se, em si mesmo, tornando-se um produto de sua
própria produção. Esta pesquisa, por ser curta e limitada, não permite que se
valide essa argumentação. Mas, à luz das teorias expostas e dos conceitos
abordados, vale como reflexão sobre o lugar em que os relações-públicas se
colocaram e até quando permanecerão ali.
Para finalizar estas considerações, reitera-se o
valor da ética neste sentido. O cinema, em sua maioria, como demonstrado por
Cabezuelo e Peinado (2014) em sua pesquisa, apresentam o RP como um
profissional antiético, manipulador e dissimulado. Se os relações-públicas
estão legitimando esta imagem, já que não se manifestam contra as produções,
então se pode inferir que a profissão está caminhando para um processo de
formação de identidade sobre o qual os indivíduos não tem influência. Para
Cabezuelo e Peinado, a solução está na formação que deveria vir da academia e
não da telona. Só então, a atividade conseguiria configurar-se por suas
próprias definições no imaginário coletivo.
Se a
formação educativa do profissional das relações públicas fizer da ética e da deontologia
um dos seus pilares básicos, pode ser que assentem aí as bases para que a
figura do relações públicas goze, no futuro, de uma melhor imagem no cinema e,
por fim, também no imaginário coletivo das sociedades contemporâneas
(CABEZUELO; PEINADO, 2014, p.53)
A ética é, desta forma, a base para esta retomada.
Somente um profissional ético em sua vida e carreira seria capaz de se indignar
com a forma como o cinema o retrata. Do contrário, estaria apenas se vendo na
tela. Ora, de onde mais viria essa formação senão da academia onde os
profissionais aprendem a profissão? Outro problema que se configura, nesse
sentido, é a questão da atuação de profissionais com formações diversas em
funções que deveriam ser, conforme a legislação indica, ocupadas por relações-públicas.
Este fator é histórico, já que a profissão começou com um jornalista, a saber
Ivy Lee, atuando como assessor de imprensa. Não
se pretende aqui discutir as competências de cada habilitação. São áreas afins
e devem ser tratadas como tal. Mas, a formação para cada uma dessas ênfases
diverge da outra. O que se dirá, então, daqueles profissionais cuja base provém
de outras áreas, tais como Administração, Direito ou mais ainda?
É importante que se faça distinção e que cada
profissional ocupe o seu lugar no mercado, a fim de desempenhar as funções
pertinentes à sua atividade dispondo do maior número de ferramentas possíveis,
assim como possuir conhecimento que balize o uso dessas técnicas e métodos. Só
então, os relações-públicas possuirão recursos suficientes para se construir
primeiro como indivíduos, depois como categoria e, só então, transmitindo essa
ideia de si para a sociedade e permeando o imaginário coletivo com uma
representação mais próxima do ideal constituidor de suas profissões, terão firmada
a sua identidade. Aí sim, como afirmam Cabezulo e Peinado, consolidados e
convictos, poderão ter uma imagem melhor representada, não só na Sétima Arte,
mas em todos os produtos e discursos midiáticos.
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[1] Na
tradução livre, significa “O público que se dane”
[2] Ética, código de valores, relações públicas
e desenvolvimento organizacional – João Alberto Ianhez. Disponível em
[3]
Também conhecido como Código de Ética
Internacional das RP, foi criado em maio de 1965, durante assembleia geral
do Centre Européen des Relations Publiques (CERP), em Atenas, sob a égide da
International Public Relations Association (IPRA). A sua autoria deve-se a
Lucien Matrat, membro fundador do CERP, e baseia-se nos princípios morais que
se referem à dignidade e direitos do Homem enquadrados na “Declaração dos
Direitos Humanos”.
[4] O Código Europeu de Conduta Profissional de
Relações Públicas, geralmente denominado por Código de Lisboa, possui o nome da capital portuguesa por ter sido
nela aprovado, a 16 de Abril de 1978, em assembleia-geral da Confédération
Européen dês Relations Publiques (CERP).
[5] Em
1950 a PRSA apresentou o Code of Ethics, que em 1959 transformou em código de
conduta profissional - Code of
Professional Standards for the practice of PR - tendo sido emendado
variadas vezes (em 1963, 1977, 1983 e 1988).
[6] “Um ideologema é
uma mutação formal de uma ideologia no sentido de promover sua simplificação e
redução, transformando um fragmento da mesma em mensagem ou elemento principal
de um discurso, texto, mensagem, etc” (VIANA, 2013)
[7] “A
psicologia do triunfo do cinema é a psicologia metropolitana. A alma
metropolitana, aquela alma sempre atormentada, curiosa e desancorada,
deslocando-se de impressão fugaz em impressão fugaz, é com muita razão a alma
cinematográfica.” — Hermann
Kienzl, “Theater und Kineimatograph”, Der Strom, v. 1, p. 219-20, 1911-1912;
citado em Anton Kaes, “The Debate About Cinema: Charting a Controversy
(1909-1929)”, New German Critique, n. 40, p. 12, inverno, 1987.
[8] O
filme francês Le Voyage dans la lune
(no Brasil, Viagem à Lua e em
Portugal, A Viagem à Lua) data de
1902 e foi baseado em dois romances populares de seu tempo: Da Terra à Lua, de Julio Verne, e Os Primeiros Homens na Lua, de H. G.
Wells. O filme teve roteiro e direção de Georges Méliès, com assistência de seu
irmão Gaston Méliès. Por abordar a questão da vida extraterrestre na película,
o cineasta é considerado, inclusive, pai da ficção científica. Outra
curiosidade é que, por ser ilusionista, Méliès incorporou alguns efeitos
especiais ao filme, sendo também considerado pioneiro neste sentido.
[9] A
expressão foi cunhada por Henri Bergson, filósofo e diplomata francês, em sua
obra A Evolução Criadora, lançada em
1907. Nesta obra Bergson desenvolve a ideia de uma "criação permanente de
novidade" pela natureza, fazendo uma analogia entre o conhecimento humano
e o cinema, este que proporciona a ilusão de movimento a partir da sucessão de
imagens.
[10] Denis
Diderot foi um filósofo e dramaturgo francês, que clamava por um novo formato
de tragédia, que mais tarde ficou conhecido como drama burguês.
[11]
Na tradução livre: “Eles se auto
identificam como sendo pagos para representar os interesses do cliente ou
organização que atendem da forma mais persuasiva possível, mas sem se associar
pessoalmente com a causa promovida”.
[12]
Na tradução livre: “Os resultados
mostraram que para grandes filmes, desde Marte Ataca (1996) até Hancock (2008),
os profissionais de relações públicas são mais dignos de confiança,
respeitáveis e influentes, e o campo de Relações Públicas é mais variado e
complexo do que foi verificado nas análises dos filmes feitos até 1995”.
[13]
Na tradução livre: “Houve sérias
discussão se o termo ‘relações-públicas’ havia sido tão contaminado que deveria
ser abandonado e substituído por algum outro termo”.
[14]
Na tradução livre: “A diversidade não é
mencionada na análise acima, porque não há nenhuma. Nesses filmes, RP é
praticada ainda exclusivamente por brancos. Assim como, anteriormente citado ([Lee, 2001] and [Miller, 1999]), a maioria dos
profissionais é homem”.
[15]
Intitula-se código cinematográfico todo e qualquer procedimento técnico que se
traduz em imagem no filme. Tome-se como exemplo o travelling ou a angulação da câmera.
[16]
Garoto-propaganda da Marlboro, famosa marca de cigarros.
[17] “Satirical comedy follows the machinations of Big Tobacco's chief
spokesman, Nick Naylor, who spins on behalf of cigarettes while trying to
remain a role model for his twelve-year-old son”
(IMDB, 2016, online).
[18] O “spin” resulta
da influência dos profissionais de Relações Públicas (RP) junto dos meios de
comunicação no sentido de a mensagem ser focalizada nas questões que mais
interessem à empresa ou organização. A função do “spin” é controlar os danos,
procurando definir o campo de abordagem, para que os jornalistas transmitam a
notícia do ângulo mais favorável possível para a organização.
[19]
Na tradução livre, significa “Por que o cão balança o rabo? Porque é mais
esperto do que ele. Se o rabo fosse mais esperto, ele balançaria o cão.”
[20] É
uma expressão idiomática usada para identificar situações em que uma parte
menor ou secundária de algo controla o todo. (Wikitionary, 2016, online)
[21]
Este foi o mesmo mote de campanha utilizado por Frank Delano Roosevelt, quando
concorria a reeleição em plena Segunda Guerra Mundial. Na tradução livre,
significa “Não troque de cavalo no meio da correnteza”.
[22] “Shortly before an election, a spin-doctor and a Hollywood producer
join efforts to fabricate a war in order to cover up a presidential sex
scandal” (IMDB, 2016, online).
[23] É um programa
semanal ao vivo da Liga Nacional de Futebol (NFL) apresentado, atualmente, pela
ESPN. Mas, entre 1970 e 2005, o programa ia na ABC
[24]
Na tradução livre, significa “Hei! Eu não tenho todas as respostas. Na vida,
para ser honesto, eu falhei o mesmo tanto que obtive sucesso. Mas, eu amo minha
esposa, amo minha vida e eu desejo a você o meu tipo de sucesso”
[25] “When a sports agent has a moral epiphany and is fired for
expressing it, he decides to put his new philosophy to the test as an
independent with the only athlete who stays with him” (IMDB, 2016, online).
[26] “Hancock is a superhero whose ill considered behavior regularly
causes damage in the millions. He changes when one person he saves helps him
improve his public image.” (IMDB, 2016,
online).
[27]
“É como você sempre diz, pai: se você quer um trabalho fácil, vá trabalhar para
a Cruz Vermelha!” – Joey Naylor (Obrigado por fumar, 2006).
[28] "Agora,
gente, gente! Este é um trabalho de merda e não é preciso que fantasmas venham
do túmulo para nos dizer isso. Mas, se Deus quiser e Jesus esperar, em oito
dias, a partir de agora, estarei entregando a vocês, amigos, o segundo
mandato" – Conrad Brean (Mera Coincidência, 1997)
Monografia produzida como Trabalho de Conclusão de Curso, da graduação em Relações Públicas, em Janeiro de 2016.
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