segunda-feira, 27 de julho de 2009

Os novos vícios: as compulsões

Por Juliana Marton
Atividades tidas como cotidianas, tais como compras, exercícios, sexo e jogos, têm se tornado uma preocupação na sociedade contemporânea, no entanto, para alguns psiquiatras “as mudanças sociais nas últimas décadas e o próprio avanço da medicina ajudam a explicar o fenômeno” (vide Folha Online). Preferivelmente chamados compulsões, os vícios modernos acarretam numa série de sintomas que em muito se assemelham ao alcoolismo e ao tabagismo. De acordo com Rodrigo Bressan, professor de psiquiatria da Unifesp (Universidade Federal de São Paulo), os mecanismos funcionam de maneira semelhante, de forma que o compulsivo não pode ficar sem álcool, cigarro, ou a prática de uma ação, como é o caso.

Como claro exemplo tem-se a questão do computador. A pessoa torna-se realmente dependente daquela ação, tanto que chega a sentar-se em frente ao monitor, mesmo que não haja real necessidade, só pelo “prazer” de estar ali diante da tela. O problema está relacionado a um aumento de tensão (estresse), a pessoa sente falta de contatos e despeja suas frustrações na máquina, procurando algo que a preencha. Daí a possibilidade que a Internet dá: conversas sem contato físico, sexo virtual, entre outras coisas. A evolução da tecnologia tem levado a um sentimento de impotência do indivíduo, o que acarreta na destruição dos valores morais sociais, como a família e os círculos de amizades, e até numa perda da identidade pessoal.
Nesse contexto, ainda se tem a questão da ditadura da beleza, que na sociedade atual é muito presente. Jovens de todas as idades torturam-se para alcançar um tipo ideal de corpo, rosto, cabelo, etc, e apesar de todas as campanhas que lutam contra esse tipo de compulsão, o número de casos só vem aumentando. Pode-se dizer, com certeza, que a anorexia e a bulimia são os resultados mais evidentes dessa sociedade insana. Afinal, como jovens magríssimas podem olhar-se no espelho e verem-se “gordas”, se não porque todos os dias são bombardeadas pela mídia com modelos de perfeição? De onde vem o remorso que obriga algumas jovens a vomitar aquilo que comem com tanto prazer?
Isso não se resume apenas às moças, mas também aos rapazes. É provado que muitos jovens do sexo masculino sofrem dessa doença porque deles também é exigido um arquétipo ideal. Essas doenças são apenas produtos da sociedade compulsivamente perfeita em que se vive hoje, uma sociedade que, mesmo não sendo perfeita, exige que os demais o sejam, implicando em indivíduos cheios de manias, tais que acabam tornando-se uma doença, ou compulsão, como são chamadas. A cada dia aumentam e variam-se os casos de compulsões pelo mundo, levando-nos a indagar o que fazer com tantos casos.
Apesar de alguns psiquiatras defenderem o uso de medicamentos, os chamados psicofármacos (remédios psiquiátricos), a resposta positiva ao tratamento não é certa, pois os sintomas não são bem conhecidos. Isso torna o reconhecimento da doença muito mais difícil, porquanto ter se tornado uma questão muito banalizada. A maioria dos casos que acontecem são apenas histórias, porque há certas pessoas que ignoram o significado desse problema e se auto-afirmam compulsivas, freqüentando terapias e, às vezes, até se automedicando. É comum ver-se alguém falando que é compulsivo por algo, por exemplo, dizer-se que se é viciado em chocolate, mesmo que não coma todos os dias, e passe bem sem o doce.
A compulsão é algo incontrolável, que embora a pessoa tenha consciência de seus atos, não consegue controlar-se e acaba agindo por impulso. Como é o caso de quem tem compulsão em compras, o indivíduo pode até não ter capital suficiente, mas adquire o objeto de sua ‘obsessão’ e, na maioria das vezes, nem utiliza o que obteve, livrando-se dele logo em seguida. As compulsões são distúrbios psicológicos causados em grande parte por estresse ou traumas, baseados no desejo que o indivíduo tem de ser aceito pela comunidade de que faz parte, ou de passar a fazer parte de uma. Embora os compulsivos ainda não assumam a realidade de sua doença, não significa que eles não existam ou que não precisem de ajuda.
É necessário que haja uma conscientização da sociedade em geral, para que as pessoas que sofrem com isso tenham maiores oportunidades de se reabilitarem e também para que possam conviver em harmonia com seu comportamento. “A ajuda vinda dos grupos de anônimos, de psico-terapeutas e até dos bancos das igrejas, ao lado dos remédios recomendados por psiquiatras, podem ajudar uma pessoa a se recuperar do vício” (vide Folha Online). Mesmo assim é preciso estar atento, porque a partir dessa recuperação podem surgir outros vícios como o por remédios ou até uma dependência por ajuda, ou seja, a pessoa torna-se sujeita à terapia.

Bibliografia consultada:

Folha Online, seção Equilíbrio. “Dependentes e compulsivos se disseminam na sociedade”; “TOC ainda esbarra no preconceito”. http://www1.folha.uol.com.br/folha/equilibrio
Folha Treinamento. “O tempo do vício”; “Psiquiatras defendem remédios”; “Contardo Calligaris: Não tem droga do cibersexo: somos apenas desejo-dependentes”. http://www1.folha.uol.com.br/folha/treinamento/
DW-World.De Deustche Welle. “Sanatório tenta livrar crianças de vícios da modernidade”. http://www.dw-world.de
LOBATO, Cláudio Rocha. Quando o uso vira vício. http://www-usr.inf.ufsm.br
Prometeu Notícias. “Vício em cibersexo já afeta 7% dos usuários da Internet”; “Mulheres desenvolvem vício no jogo quatro vezes mais rápido que homens”. http://www.prometeu.com.br

Artigo elaborado em Junho de 2007

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