domingo, 9 de agosto de 2009

O conflito judaico-palestino: O que é?

A história de conflitos entre o povo israelense e palestino atravessa gerações sem possibilidades de solução, a curto ou longo prazo

Por Juliana Marton

A disputa Israel versus Palestina é o embate de dois povos pelo direito a terras, que nas religiões de ambos, são consideradas sagradas. Segundo o cientista político da Universidade Católica de Goiás (UCG) Wilson Ferreira, o conflito, propriamente dito, tem início em 1948, após a segunda Guerra Mundial, com a criação, por intermédio da Organização das Nações Unidas (ONU), do Estado de Israel e a não-criação do Estado palestino. A Segunda Guerra mudou a concepção mundial em relação aos judeus, frente aos horrores que foram praticados pelos nazistas. O chamado Holocausto gerou em todos os povos uma sensação de dívida pelo genocídio efetivado durante a guerra.

Diante de todas as argumentações do povo judeu, que se via prejudicado pelo horror da segunda grande guerra, e da crise interna pela qual a Palestina passava – a Inglaterra estava enfraquecida pela guerra e já anunciava seu desejo de abandonar a região – a ONU optou pela criação do estado israelense, tornando Jerusalém uma cidade internacional. Com o orgulho ferido, os palestinos encararam uma divisão de terras baseadas na distribuição “aleatória” de territórios, que privilegiou a nação judaica, oferecendo-lhe as melhores terras e onde havia água, o que na região é um recurso escasso. O primeiro grande líder israelense, David Ben Gurión, proclamou Israel independente em maio de 1948.
Em 1950, o Parlamento de Israel, que havia sido estabelecido em Tel-Aviv e mais tarde, em Jerusalém, aprovou a grande Lei do Retorno, que estabelecia como cidadão de Israel todo judeu filho de mãe judia, ou que fosse convertido ao judaísmo. Com a nova lei e os movimentos crescentes de imigração para o recém instaurado país, a população de Israel aumnetou 4 vezes em pouco mais de vinte anos. Em 1975, com a resolução da ONU que passou a considerar o sionismo como uma forma de racismo, Israel sentiu-se injustiçado: como um povo que foi discriminado ao longo dos anos, poderia agora ser causador do mesmo mal?
Muitos conflitos culminaram desde então, com direito a guerras rápidas, como a Guerra dos Seis Dias, que ocorreu no ano de 1967, e culminou com o ataque relâmpago de Israel aos aeroportos da Síria, da Jordânia e do Egito, além de guerras mais longas, como a Guerra do Yom Kippur, que teve início em 1973 e terminou seis anos depois, em 1979, rendendo a Israel as Colinas de Golan, território que pertencia a Síria, e a Faixa de Gaza, do Egito. O professor Wilson Ferreira afirma que os conflitos prolongaram a situação de desconforto entre as nações. Segundo ele, com a entrada do aiatolá Ruhollah Khomeini do Irã, em 1979, logo após o fim da guerra do Yom Kippur, o ódio entre árabes e israelenses aumentou.
Após a guerra do Yom Kippur, as relações entre as nações árabes também estremeceram, pois com o fim do conflito, o Egito fez acordos com Israel, a fim de conseguir de volta a Península do Sinai. Entretanto, a aproximação dos dois países fez com que o Egito fosse isolado do restante do Oriente Médio, além de ter aumentado as tensões em toda a região. De acordo com pesquisadores da área, a guerra Irã-Iraque foi também conseqüência da situação de crise. Um país de maioria xiita que era governado por uma minoria sunita só poderia resultar em revolução, o que não foi aceito pelo Iraque. A revolução xiita derruba o regime atuante, e quem sobe ao poder é Khomeini que implanta um regime fundamentalista.
Segundo Wilson Ferreira, a tensão é uma marca do Oriente Médio, que ocorre, principalmente, devido às diferenças culturais e religiosas. “Desde criança o menino aprende que o outro lado é o mal, ele é o bem”, exemplifica. Para o cientista político, o problema na região da Palestina, especialmente, é político-religioso e envolve preconceito, ideologia e geopolítica. “É um embate de décadas e décadas que provavelmente não será solucionado. Isso, basicamente, em motivo do fanatismo religioso, de ambas as partes. É bastante sintomático”, conclui. Além da disputa por terras, há também os interesses de outros países na região. As grandes nações têm interesse, e uma posição diante do conflito, seja ela explícita ou implícita, diz Ferreira.
O cientista político afirma que, Israel hoje, é uma das nações mais bem armadas belicamente do globo, deste modo, caso uma guerra entre Israel e Palestina comece, o Estado judeu sairá vencedor. Entretanto, ali não há vencedores ou perdedores, como coloca, pois as duas nações têm direito às terras, segundo suas visões etnocêntricas e preconceituosas. O professor explica que esse é um embate político entre as duas forças de poder, não de governo, pois, a maioria da população de ambos os lados é seguidora de seus governos e de suas metas governamentais. O povo é pacífico, pois a população palestina não deseja dirigir o lado israelense, ou vice-versa. “Eles são basicamente manipulados pelos dois sistemas em foco”, afirma.
Atualmente, a situação continua indefinida. Já que, segundo o professor Wilson Ferreira, o problema entre as duas nações não tem perspectivas de solução a curto ou longo prazo. A ONU e as grandes nações, como os Estados Unidos, isentam-se da responsabilidade de interferir na situação, todavia, não deixam de estar alertas, visto que um conflito entre a Palestina e Israel afetaria o mundo inteiro. “Daí os esforços conjuntos para que não haja uma guerra frontal entre as duas partes”, assegura o professor. Diferentemente de quatro décadas atrás, hoje, existem países árabes que não apóiam a investida palestina contra Israel, entretanto suas posições perante o conflito são subentendidas. “Pelo contrário, eles (outros países árabes) têm um compromisso amigável com a diplomacia de Israel, dos judeus”, completa.
Reportagem produzida em Setembro de 2008.

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