A estilista Maria Elvira Crosara fala sobre o começo
da carreira e de como a moda deve ser usada em favor do estilo próprio de cada
um
Juliana S. Marton – Jornalismo/4° período
“Uma coleção não surge sem trabalho”.
Essa foi uma das máximas que permearam a conversa com Maria Elvira Crosara,
estilista e dona da Anunciação. A mulher por trás da grife é prática e dispensa
rodeios. Suas respostas são rápidas e ágeis. A estilista nasceu no ano de 1968,
no sul do país, e mudou-se para a capital goiana bem jovem. Desde muito cedo,
Maria Elvira já tinha contato com o mundo da moda. Suas avós, principalmente,
encarregaram-se de trazê-la para mais perto desse mundo, já que uma era
costureira e, a outra, fazia crochês e bordados.
A Anunciação nasceu de fato em 2003,
com a inauguração de sua primeira loja, que fica na Avenida Oscar Freire, em São Paulo. Mas
a idéia de uma grife já estava a muito nos planos da estilista. Em 1988, Maria
Elvira e Ana Cristina, sua sócia na época, fundaram a grife Anastácia Bianco.
Devido às aspirações profissionais de cada uma, optaram por fechar as portas.
“Eu queria fazer arquitetura, e a Ana Cristina estava fazendo psicologia, então
nós paramos por um tempo com a loja”, como explica.
Mais tarde, em 2002, Maria Elvira formou-se em Design de
Moda, na primeira turma da Universidade Federal de Goiás, retornando em seguida
ao mercado da moda, todavia, agora com a Anunciação. Desde então, marca e dona misturam-se:
a linha que separa Maria Elvira da Anunciação é tênue, e quase imperceptível.
“Quando uma pessoa me procura para fazer uma roupa sob medida, acredito que ela
queira uma roupa da Anunciação”, conclui.
Juliana Marton: Quem é a mulher que veste Anunciação? O que ela busca?
ME: Sabe que no começo da Anunciação, eu
ficava realmente pensando em quem seria meu público-alvo?! Eu tentava descobrir
quem era essa mulher. Com o tempo, o que descobrimos (risos), foi que nós não
temos um público-alvo definido. Temos várias clientes de 70 anos, tanto aqui em
Goiânia quanto em São
Paulo. E às vezes, tem garotas mais novas que vão à loja e
pedem pra fazer menor. Não dá pra definir. Ela tem, na verdade, é que se identificar
com o estilo.
JM: Quais são os principais ícones que você prefere incluir em suas
peças?
ME: Não há um ícone em especial, não. A
coleção às vezes pode vir de uma cartela de cores, às vezes vem de uma vontade,
ou algo que eu veja... Não tem algo pronto, ela nunca vem do mesmo modo. Cada
coleção é uma história. Não há algo tão bem definido, como: primeiro faço a
cartela de cores, depois escolho a estamparia, depois escolho a forma.
JM: Nas grandes metrópoles é visível a influência da moda. Já aqui em Goiás
ela ainda está ganhado mais espaço...
ME: Não! Eu acho que aqui em Goiás,
tanto quanto em qualquer lugar do mundo, é visível a influência da moda. Porque
hoje em dia você tem internet, tem televisão... Internet então dá pra ver tudo
o que está acontecendo. Se estiver acontecendo um desfile lá em Paris hoje, eu
vejo no mesmo dia pela internet. Eu acho que a influência hoje, está pra todo
mundo. Está uma coisa muito rápida.
JM: A Anunciação hoje exporta para fora?
ME: Sim, para alguns países da Europa e do
Oriente Médio.
JM: Você tem idéia de como a moda brasileira é vista lá fora?
ME: A moda brasileira é muito bem aceita.
Porque é especial, é diferente. Ela tem uma cara de Brasil mesmo. Tem um quê
diferente.
JM: E você acha que o Brasil já conseguiu se desvencilhar daquela idéia
de sensualidade exacerbada que se tinha antigamente?
ME: Eu acho que sim. Hoje muita gente
faz diferente. Acho que hoje não é mais visto assim.
JM: Você acha que a moda é uma coisa interiorizada. Você olha pra pessoa
e vê que ela tem mais facilidade de se vestir do que outra. Você acha que isso
é algo que varia de pessoa?
ME: Eu acho que quando a pessoa se veste
e olha no espelho, prestando atenção, ela se veste bem. Na maioria das vezes as
pessoas não prestam muita atenção. Pegam qualquer coisa, vestem-se e saem. Pra
mim, qualquer um que prestar atenção e olhar, vai saber se está bom ou não. E,
pra mim, é perfeito quando a pessoa está em seu estilo. Não importa, não há
certo ou errado. Se a pessoa está no estilo dela, fica bom. É algo incrível.
JM: Você acha que a ditadura do “o
que vestir hoje” é algo que prejudica a moda em geral?
ME: Eu acho isso um pouco chato. Esses
dias eu estava assistindo a um programa de televisão, e estava passando
justamente essa questão do mundo da moda. Acho que as pessoas devem se vestir
como gostam. Com cuidado, mas dentro do estilo dela, dentro do que o corpo dela
pede. Porque também não adianta, se a pessoa tem uma barriguinha, não dá pra
colocar uma roupa que seja apertada ali naquela região. Fica ruim! Se ela
quiser pode até colocar, porque cada um usa o que quer, mas bom não vai ficar.
Fora isso, fora essa estrutura, eu acho um pouco chato essa coisa da moda.
JM: E isso é também aquilo que se vê no jogo das tendências. Algo que é
lançado hoje, já não pode ser usado amanhã.
ME: Exatamente. E você vê aquilo tanto,
tanto, tanto que fica maçante. Cansa. Eu me canso. Às vezes eu vejo coisas na
minha própria coleção que me cansam, porque eu já vi demais. Isso é meio
traumático, porque a gente cansa de tanto ver. E também tem todo um jogo em
torno dessa ou daquela tendência. A tendência não é 100% livre do pensamento
coletivo. Ela está no pensamento do todo.
JM: Você acha que às vezes falta um pouco de explicação sobre isso? Por
esse tempo estava na moda usar o xadrez, e às vezes as pessoas ficam assim meio
perdidas. Todos usam, tem em todas as lojas. Mas as pessoas não sabem porquê.
Se você pergunta a uma delas o motivo de usar xadrez ela vai responder que é
porque está na moda. Você acha que falta esclarecimento?
ME: Ai... Não
sei te falar. Seria bom se as pessoas soubessem que não tem que usar o que está
na moda. Tem que usar o que gosta. Se você olha e se identifica, então deve
usar. Hoje tem tanta marca... Tem multimarca que tem milhões de opções. É mais
fácil, você não precisa usar só porque está na moda. E ainda tem muita coisa na
moda. Não tem só xadrez... Tem xadrez, tem apertado, curto, comprido.
Janela 1: “Mas
eu acho que essa coisa de querer ficar diferente demais... De querer o novo
demais é ruim.”
Janela 2: “Eu
acho que represento minha cidade, represento o estado, represento o Brasil de
alguma forma. Porque é onde eu vivo, é o que eu faço...”
Janela 3: “A
matéria que eu mais gostava na escola, aliás a única que eu era boa de verdade,
era no bordado.”
Entrevista produzida em outubro de 2008, para a disciplina de Jornalismo de Moda.
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