O Festival Internacional de Cinema Ambiental (Fica)
ocorreu, extraordinariamente, em 2015 durante o mês de agosto. A 17ª edição do
evento, que tem destaque no calendário nacional e vem ganhando visibilidade
internacional ao longo dos anos, sofreu bastante com o corte orçamentário. Mas,
os problemas que surgiram acabaram por fortalecer o festival, fazendo-o
retornar à sua essência original. Bem, essa é a opinião de Raquel Teixeira,
titular da Secretaria de Estado de Educação, Cultura e Esporte de Goiás
(Seduce). O Tribuna conversou com a secretária, que apresentou um balanço do
evento e ainda falou sobre a agenda cultural do Estado. Confira o bate papo
Juliana Marton
Editoria de Comunidades
Fica 2015.
Qual a avaliação geral? As metas foram atingidas, foi positivo o saldo da
realização do evento?
Foi. Na minha avaliação, foi extremamente positivo.
O Fica nasceu há 17 anos, como um festival de cinema ambiental. Isso quer dizer
que não é só um festival de cinema. Tem 130 festivais no Brasil. Gramado é
muito mais importante. Então, o diferencial é a temática ambiental. Portanto,
ele é um espaço criado para se discutir as questões ambientais através da
imagem, através do cinema. E ele ficou forte, quando nasceu, exatamente pelo
perfil. Nesta 17ª edição, ele se fortaleceu, novamente, como cinema ambiental,
com repercussão nacional e, principalmente, internacional. É claro que há
outras questões envolvidas. Então, alguém pode dizer que o público foi menor.
Foi. Discutir meio ambiente, transgênicos, falta d’água, não atrai o mesmo
público que o show da Rita Lee. E o Festival estava acostumado, nos últimos
anos, a ter grandes shows nacionais. Eu não tenho nada contra esses shows e,
talvez, a gente até retome um para finalizar o Fica no ano que vem. O que nós
não vamos deixar acontecer mais – essa é a determinação do governador – que o
show nacional se sobreponha ao festival de cinema. Se fosse assim, então vamos
acabar com o Fica e fazer um Canto da Primavera em Pirenópolis. Não é essa a
ideia. Cada um desses eventos nasceu com um perfil definido. Porangatu tem
teatro, Pirenópolis tem música, e Goiás tem cinema ambiental. Foram eventos
culturais criados com perfis bastante definidos.
Houveram algumas
questões, como o corte no orçamento e a mudança na data, que trouxeram um pouco
de insegurança. Isso atrapalhou a realização do festival?
Outras questões, também, talvez possam ter
“atrapalhado” – porque eu não acho que, realmente, atrapalhou. Mas, saíram da
rotina, como a data. A data sempre foi junho, porque é o mês do meio ambiente.
E será sempre em junho, a partir do ano que vem. Tivemos um problema de
definição orçamentária que aconteceu em maio, ficando impossível fazer o evento
em junho. Agosto é um mês difícil. As pessoas estão retornando das férias, e o
pessoal daquela região vai todo para o Araguaia durante o mês de julho, então
agosto é um mês de retomada. O Teatro São Joaquim entrou em reforma em julho.
Ficou esperando a gente ter o Fica em julho, aí não dava para esperar mais.
Portanto, não tivemos o principal local de exibição. Tivemos que usar o
Cinemão, que sempre foi usado como apoio, mas que agora virou o local do evento
principal. Mas, nem isso atrapalhou. As pessoas se envolveram, gostaram,
aprenderam, se relacionaram. Aliás, tem um cineasta português, que veio
representando a Green Network Films, que me disse que gosta muito mais do
Cinemão, do que do Teatro São Joaquim. Para ele, pelo tipo de evento que é o
Fica, o Cinemão é o máximo. Então, há opiniões discordantes. É claro que nós
queremos ampliar o número de telas, não só do Teatro e do Cinemão, mais ainda.
Mas, se a gente considerar: 50% do orçamento, data diferente, instalações não
ideais, e o sentimento que saiu de lá, das pessoas que participaram – porque,
nunca houve tanta gente participando de oficinas, debates lotados,
mesas-redondas, seminários – foi positivo. A gente teve quase cinco mil pessoas
participando das salas. Isso supriu a crítica que era feita no passado. Um diretor
que apresentou um filme a segunda vez me disse: “Que bom! Quando eu apresentei
meu primeiro filme, tinha dez gatos pingados assistindo e um bando de gente lá
fora”. Agora não. A sala estava cheia. E é isso! 40 mil pessoas passaram pela
cidade.
Qual o
impacto econômico para a Cidade de Goiás?
Foram investidos R$ 800 mil, diretamente, e R$ 900
mil, indiretamente. Se você considerar que R$ 1,7 milhão em quatro dias é maior
do que a arrecadação da Prefeitura da cidade em um mês, pode-se ter noção do
impacto econômico que, necessariamente, não acontece com os grandes shows. Tem
muita gente que vai para os grandes shows e nem consome, leva sua própria
bebida. Enfim, economicamente foi um sucesso. Houve 100% de ocupação dos hotéis
no Centro Histórico, e 70% em toda a periferia.
Na sua
opinião, o Fica é um evento que faz jus à sua temática, que é a ambiental?
O Fica teve algumas inovações interessantes. Nós
desenvolvemos um aplicativo que transmitia a programação online, mas você
também podia entrar fazer perguntas e acompanhar. Foi distribuído um squeeze
para as pessoas usarem durante o festival, reduzindo o número de copos
plásticos utilizados. O aplicativo reduziu o número de papéis impressos. Muito
comum nesses eventos é imprimir o programa e a pessoa pega um, participa da
primeira sessão e descarta. Daí, na frente quer outro papel, e joga fora. Outro
e joga fora. Então, nós consumimos menos papel, menos plástico, e começamos uma
coisa que a gente quer fortalecer nos próximos anos, que é uma coerência entre
o que é dito e feito. É muito fácil você jogar na tela uma série de acusações,
coisas erradas, mas você consome plástico, joga papel na cidade. A gente
colocou 70 lixeirinhas novas, estimulando as pessoas a não jogar nem papel, nem
lixo, nem nada na cidade. Então, eu acho que esse Fica expressou uma retomada
do conceito original, mas um conceito novo de tentar essa ligação entre o que a
gente pensa, fala e faz. Porque, se a gente quer, efetivamente, mudar hábitos –
e nós queremos com o Fica, pra isso é que é feita a discussão, para que novos
hábitos sejam tomados, cuidados sejam tomados, que a gente preserve o planeta
que está num processo de risco e vulnerabilidade muito grande – a gente tem que
começar a mudar. Nesse sentido, foi muito bom. Foi ambiental, foi cinema, foi
pedagógico e consolidou o aspecto formativo.
Em que
sentido ocorre essa formação?
Um dos filmes premiados, recebeu dois prêmios, foi
o segundo melhor filme goiano, o “Maria Macaca” é fruto direto do Fica. O
Lázaro (diretor) ao receber o prêmio estava muito emocionado e as pessoas
também, porque ele contou que, desde o primeiro Fica, sempre assistiu a todas
oficinas, todos seminários, todos debates. Portanto, o que ele sabe de cinema,
ele aprendeu com o Fica. Então, o festival já tem resultados concretos desse
papel formativo, que é tão evidente que, hoje, estamos construindo uma
indústria do cinema em Goiás. Tem vários filmes sendo rodados aqui. Foi feito o
lançamento de dois. Tem um que acabou de ser rodado, “As duas Irenes”, que deve
ser lançado brevemente. Então, o Fica tem um papel muito importante. Não é só
atrair gente que vá embora no dia seguinte, e não deixar legado, e não deixar
uma ação marcada. O Fica está se consolidando cada vez mais nesse papel que
veio para fazer uma diferença, para formar, discutir, estimular militância, e
debater temas nem sempre agradáveis, mas necessários. E um outro aspecto muito
interessante do Fica é que os filmes são de denúncia, claro, mas não tem nada
catastrófico. Sempre apontam uma saída, alguma solução. E é isso que a gente
tem que fazer: constatar o risco e propor soluções. Aí, nesse sentido, eu diria
nota 10.
Vencidas
essas dificuldades no ano que vem, acredita que o público pode aumentar e o que
isso trará de benefícios para o festival? E, se sim, a Cidade de Goiás, terá
formas de comportar esse público, vez que, como a sra expôs, 100% da hotelaria
no Centro Histórico estava ocupada este ano?
Esse é um problema real que a Cidade de Goiás
apresenta e que tem que ser resolvido por eles. A Prefeitura tem que fazer um
trabalho nesse sentido. O Leonardo Rizzo, pelo que eu soube, está trabalhando
nesse sentido. Ele trouxe um especialista espanhol para acompanhar os dias do
Fica e fazer um projeto do que Goiás precisa fazer para inserir mais vagas. Tem
que resolver essa questão. Agora, eu não acho, que o número de público deva ser
o termômetro para o sucesso do festival. O número de público nas salas de
exibição, nos debates, nas mesas redondas, nos seminários, sim.
É neste
sentido que falo. Um aumento do público que participa.
Claro, claro. Acho que temos condição de trazer
mais ainda voltando para junho, que é a época tradicional. Pra você ver, nós
tivemos o Fica na mesma semana do Festival de Gramado. Então, em junho já é um
calendário nacional de cinema. Então, eu não tenho dúvida de que voltando para
junho, tendo um orçamento maior, mas com foco de que esse orçamento jamais será
para muito show. Não é um festival de música. Isso ficou muito claro. Agora,
ampliar número de telas, de exibições. Claro, o orçamento a mais que
conseguirmos ter será para fortalecer a participação dos nossos filmes em
outros festivais, apoiando os diretores para ir mostrar sua produção em outros
eventos, no Brasil ou no mundo. Acho que sim, voltando para junto e tendo os recursos
históricos recuperados, nós vamos fortalecer e muito o festival.
São 17 anos,
então o Fica se tornou um evento de visibilidade internacional, como a sra
mesma colocou. O que isso representa para Goiás, enquanto produtor cultural?
Representa muito. Por exemplo, o francês que tirou
o primeiro lugar, com o filme sobre transgênicos, conversou longamente comigo,
dizendo: “Secretária, isso aqui é uma preciosidade. Cuida bem do Fica! O que se
debate aqui, o que se mostra aqui, vai influenciar o mundo”. Então, eu acho que
isso mostra que a gente, agora, precisa ter um enraizamento nacional mais forte
e uma projeção internacional, também, mais evidente. A gente tem essa projeção,
mas ela ainda é pequena. O festival ainda é um evento goiano. Nesse sentido,
está consolidado. Precisamos, agora, levar os filmes nacionalmente; fazer uma
inserção mais sistematizada nas redes sociais; aprofundar esse aplicativo que
foi desenvolvido para essa edição do Fica continuar ao longo do ano, inclusive
disponibilizando os filmes através da Internet; entrar mais firme nas escolas,
para formação de público, porque se você consegue formar plateia e estimular o
gosto pelo cinema e pelo debate, você só fortalece a indústria que cria. Então,
está nos nossos planos para os próximos anos uma inserção internacional. Por
que não levar os nossos produtos para os grandes festivais de cinema ambiental
no mundo? Em Portugal, na Itália e Estados Unidos, onde são os maiores. A nossa
ambição e planejamento passa muito por essa consolidação nacional e
internacional.
Conversei
com o Lisandro Nogueira, há pouco mais de um mês, sobre a indústria
cinematográfica em Goiás. E o que ele apontou, que nós ainda temos dificuldade,
hoje, não é a produção, até porque ela é excelente, mas é com a distribuição
desses filmes. O que o Governo do Estado e a Seduce pretendem fazer para
ampliar essa distribuição e, consequentemente, as pessoas tenham acesso a essa
produção que é de qualidade?
Essa problemática da distribuição não é nem só do
cinema goiano, mas do cinema brasileiro, em geral. E, através do Fica, a gente
tem um canal para fortalecer isso. Eu participei do debate com o Alfredo
Manevy, que é da SP Cine (empresa de cinema e audiovisual de São Paulo), que
alegou a mesma dificuldade. E ele foi além. Porque, afora do problema de
distribuição, o cinema brasileiro feito em São Paulo tem problema de exibição.
Porque, às vezes, você até faz essa distribuição, mas não é exibido porque não
tem tela. Então, a gente tem que ver mais: a distribuição, a tela. Por isso que
eu falei que a gente tem que ampliar o número de telas em Goiás e nas outras
cidades. Improvisar escolas como possíveis cinemas. Cinema ao ar livre. Usar
esses mecanismos que outros lugares usam para uma ampla disseminação do cinema.
Lá no Fica, conversei com o Manevy. A gente já está pensando em uma primeira
parceria Goiás-São Paulo, como isso poderia funcionar. E é assim que as coisas
acontecem. Por isso o Fica é importante, porque traz pessoas de muita
importância, destaque e influência na área, e você estabelece uma rede de
relações e contatos que, com certeza, em algum momento traz resultado positivo.
A Internet,
com a criação de uma plataforma para distribuir e exibir esses filmes, seria
uma ferramenta interessante?
Claro, claro. Eu falei isso no primeiro dia do
festival e acabou que teve receptividade. E eu agora vou ser obrigada a
trabalhar nessa direção (rs). Quem sabe começar a incluir formatos diferentes
de filme? Por que não, filme para celular? Por que não, um videogame com
temática ambiental? Por que não, outras formas de linguagem que existem no
mundo, hoje? Tudo isso vai entrar na pauta do Fica.
Goiás produz
muita cultura. Mas, às vezes, isso fica muito restrito ao próprio estado. Como
que a sra enxerga Goiás, hoje, com relação ao restante do país? Acredita que há
uma representatividade nesse aspecto cultural ou há uma restrição ao que é
produzido no estado?
Acho que talvez falte divulgação, marketing. Goiás
há muito tempo, na música clássica, já tem uma inserção nacional e
internacional. Nós temos grandes pianistas goianos que moram na Europa, que
vivem de recitais de piano. Tivemos o prazer de apresentar um desses lá em
Goiás, agora em julho. Então, na música clássica, Goiás é muito conceituado.
Houve grandes mestres da música que moraram em Goiás por muito tempo, e
fortaleceram isso. Nas artes plásticas, a gente tem essa inserção nacional. É
claro que, no sertanejo, nós somos hors concours. Somos campeões. O que é muito
bom. Porque a música, a cultura é variada. A gente já tem uma credibilidade,
uma inserção na música clássica, na música sertaneja, na música de raiz, que é
diferente da sertaneja, e talvez mereça um pouco mais de projeção. Eu não gosto
nem do termo “música goiana” e “cinema goiano”. A gente não fala o “cinema
paulista”, a “música paulista”, a “música carioca”. É a música brasileira feita
no Rio, a música brasileira feita em São Paulo, a música brasileira feita no
Rio Grande do Sul. Eu acho que a gente tem até que, até através da palavra, da
semântica, ir eliminando um pouco essa coisa de ser goiano. É muito bom ser
goiano, mas a gente quer ser nacional feito em Goiás. E é claro que isso me
preocupa. Eu acho que, agora, com a sistematicidade dos Fundos de Cultura, a
gente começa a ter uma ferramenta nova que vá permitindo essa inserção. A
consolidação da Lei Goyazes e do Fundo de Cultura, instrumentos muito
importantes para fortalecer a arte que é produzida no nosso estado.
Recentemente,
houve o Encontro de Culturas Tradicionais da Chapada dos Veadeiros. Uma das
questões mais levantadas é um pouco da falta de investimento do Governo do
Estado nas culturas tradicionais. É um evento grande e que, neste ano, devido
às dificuldades financeiras, teve seu tempo de duração reduzido pela metade,
praticamente. Como que o Governo pretende trabalhar para incentivar mais essas
culturas tradicionais, que são a base cultural do estado?
Nos oito anos em que fui deputada, fiz Emenda
Parlamentar para esse evento. Então, sou alguém que conhece e admira esse
Festival. É admirável. O Juliano (idealizador e organizador) merece todos os
troféus e prêmios, porque ele realmente carrega aquilo ali. Ele é uma pessoa
excepcional. Este ano não haveria festival, porque eles sempre tiveram um
patrocínio muito grande da Petrobras, o que não aconteceu esse ano, não haveria
nada se a Seduce não tivesse arranjado R$ 200 mil pra eles. O que ainda
permitiu ter uma versão menor, foi esse recurso que nem estava previsto. A
gente fez um esforço enorme para conseguir, exatamente porque conhecemos e
acreditamos. O Festival, inclusive, já foi aprovado pelo Conselho de Cultura em
uma das nossas fontes de fomento. Então, é um evento que é conhecido e eles
sabem que faz parte do nosso propósito, para os próximos anos, ter um apoio
como temos para o Fica, para o Canto. Alto Paraíso entra, sim, na nossa agenda.
Saindo um
pouco da cultura, para a educação, a grande polêmica são as OSs (Organizações
Sociais), que a sra até já havia se posicionado contra, mas o governador
insiste e está decidido sobre isso, porque foi algo que deu certo na área da
saúde e ele acredita que irá dar certo trazer esse modelo americano, das
charter schools, para cá. Como isso vai funcionar e vai dar certo ou não, na
sua visão?
A decisão de ter OS na educação estava tomada,
desde antes de eu tomar posse. Eu tomei posse sabendo que, em algum momento, a
gente implantaria uma gestão diferente. Qual que era a minha preocupação e que,
hoje, eu estou muito mais tranquila em relação a ela, porque o governador
respeitou, ao longo desse semestre, todas as minhas demandas de ter certeza
naquilo que a gente ia fazer. Foram montadas várias forças-tarefa para discutir
a questão. Temos hoje um arcabouço jurídico que nos dá bastante segurança. Porque,
no começo, a gente ficava: “Meu Deus, a LDB (Lei de Diretrizes Básicas) fala
que professor tem que ser efetivo para fazer o projeto político-pedagógico. O
Plano Nacional de Educação fala que tem que ter gestão democrática, diretor
eleito. Como é que a gente vai conciliar isso com OS?”. Tudo resolvido. Vai ter
eleição. A coisa está equacionada. Até porque, a gente não fala muito disso,
mas a única experiência de OS na educação básica que existe, não é nem de
Estados, nem de Municípios, é do Governo Federal. O MEC (Ministério da
Educação) tem um convênio com uma OS do Rio Grande do Norte para educação
básica. Então, o MEC é que abriu o precedente, temos essa cobertura. Pedimos
que as OSs se apresentassem. Não havia nenhuma. No último que fizemos, já apareceram
duas ou três. Nós fizemos um levantamento completo. Não é simples fazer esse
chamamento, porque quando o faz, a OS tem que aparecer e a gente tem que ter as
condições de negociar. Para isso, a gente precisava ter custo-aluno em cada
escola, em cada sala de aula, em cada região. E, hoje, isso está muito claro.
Já temos o custo-aluno médio-ano definido. A gente tem clareza que todo
controle pedagógico será da Seduce. A OS entra na gestão, o que é uma boa
coisa, porque a Secretaria tem quase 1.200 escolas, é muito difícil você daqui
acompanhar o que está acontecendo em Uruaçu, Porangatu, em alguma cidade mais
longe, ou mesmo aqui perto. Um grupo menor de técnicos experientes e
qualificados em educação que estejam acompanhando de perto cada uma das escolas,
vai criar a condição que a escola privada tem em relação à pública, no sentido
da qualidade. Há uma pesquisa da Unesco que mostra que o mesmo professor quando
trabalha na rede privada, municipal e estadual, tem comportamentos diferentes.
Na rede privada é onde ele é mais caxias, digamos assim. Porque o dono da
escola está ali. Se ele faltar ou não cumprir alguma obrigação, será demitido.
No Município, o prefeito está próximo. No Estado, o governador está muito longe
(rs). Então, é aquela coisa que é o olho do dono que engorda o gado, e essa
coisa. É incrível, mas acontece. E ao ter a gestão de grupos que vão acompanhar
mais de perto o desenvolvimento do que está acontecendo na escola, tem tudo
para ter uma gestão melhor. E um dos grandes problemas da educação, que tem
sido apontado há muito tempo, é a gestão. Os professores são formados para ser
professores. Ele não é formado para ser diretor. Não é formado para ser gestor.
Então, não é nem por má vontade, é por falta de conhecimento técnico, mesmo. Se
você transfere a gestão para alguém que saiba fazer isso melhor do que você, e
o diretor foca na questão pedagógica, ele vai ter até melhores condições de um
retorno pedagógico, em termos de aprendizagem do aluno, do que se ele estiver
dividindo sua atenção com quinhentas coisas dentro da escola. O professor vai
poder focar naquilo que é a natureza do trabalho dele, que é ajudar o aluno a
aprender.
Com relação
à Universíade, os jogos universitários mundiais, a sra chegou a ir até a Coréia
para trazer o evento, mas acabou não dando certo. Poderia falar um pouco sobre
o que ocorreu?
A Universíade é o terceiro maior evento esportivo
do mundo. Copa do Mundo, Olimpíadas e Universíade. Dessa edição do evento em
2015, que foi na cidade de Gwangju, na Coréia, participaram mais de doze mil
atletas. Só a seleção americana tinha mais de 600, a seleção russa outros 600,
a seleção da China quinhentos e tantos, a seleção da França também enorme.
Porque, nos países desenvolvidos, o esporte universitário é muito estimulado,
desenvolvido e prestigiado. Nas grandes universidades americanas, os jogadores
são celebridades. Então, esses jogos são muito prestigiados. Fantásticos os
jogos. Uma abertura linda, com a presença do presidente da república e tudo. Qual
que era o problema? O Brasil assumiu internacionalmente o compromisso, por meio
da presidente Dilma e do ex-governador do Distrito Federal Agnelo Queiroz, de
trazer a Universíade de 2019, porque ocorre a cada quatro anos. Com a derrota
do Agnelo, o governador que assumiu, o Rodrigo Rollemberg, falou “Tô fora! Nem
pensar!”. A presidente Dilma também, com as dificuldades econômicas que está
vivendo, também recuou. Foi o próprio ministro do esporte que sugeriu ao
governador Marconi Perillo que entrasse na jogada. E eu fui pra lá com esse
objetivo. Conversei com o presidente da Federação Internacional de Esportes
Universitários, que é um belga. Ele ficou muito grato à nossa boa intenção de
trazer a Universíade para o Brasil. Trouxemos a proposta de fazer o evento
sediado em Goiânia e Brasília. Conversei com os governadores, porque aí
dividiria a despesa pela metade. A construção da Vila Olímpica não era o
problema. O governador Marconi já havia encontrado uma construtora que estava
disposta a construir a Vila e, depois da Universíade, colocaria à venda. Ela
construiria, emprestaria, vamos dizer assim, e depois venderia os apartamentos.
Porque são apartamentos normais. Consegui negociar com o presidente da
Federação Internacional uma redução muito grande no custo final. Mas, mesmo
assim, era pesado para Goiás assumir sozinho, sem o apoio do Governo Federal e
sem o apoio de Brasília. Então, lamentável, mas ficava muito caro. E o
compromisso não era exatamente nosso. Uma pena para o Brasil.
Houve uma
militarização recente de algumas escolas no estado, devido à questão da
violência que estava em um nível bastante elevado, em algumas unidades. Alguns
cientistas sociais se colocaram contra essa medida, porque acreditam que se
estabelece uma relação de medo da repressão. Temos aí decorrido um ano, desde a
implantação da primeira desta leva. Qual o saldo que temos dessa intervenção?
Houve uma redução da violência nessas unidades?
Na verdade, se deixasse por conta da população,
tinha uma por dia (rs). Eu fui deputada federal por oito anos. Onde você chega
o primeiro pedido que os prefeitos fazem é levar uma escola militar para o
município deles. Então, a gente tem quilos de prefeitos e deputados que querem
uma escola militar. Porque são boas escolas, que tem bons resultados de
aprendizagem. É claro que, ideologicamente, algumas pessoas são contra. Eu acho
compreensível. Não é todo mundo que quer que o filho frequente uma escola de
orientação religiosa ou de orientação militar. Há quem defenda que o sistema
público, por ser laico, não possa ter nenhum tipo de conotação religiosa ou
política, de qualquer que seja a natureza. Mas, na verdade, os colégios
militares são colégios públicos, os militares são gestores, e os que são
professores, são militares, mas são também educadores. As pessoas, às vezes,
esquecem disso. Quem dá aula fez curso de Pedagogia, ele é um professor, fez
curso de Licenciatura seja lá qual for a área. Quem dá aula são educadores. A
grande maioria é civil. É um número pequeno de militares que dá aula. Eles participam
da gestão e, é claro, que tem uma rotina mais disciplinada do que das outras
escolas, até por causa da própria orientação. E uma das demandas das famílias,
hoje, é essa rotina de disciplina que é tão importante na vida. A pessoa que
não tem disciplina acaba tendo dificuldade na vida. E alguns pais desejam que
os filhos tenham essa orientação. Não acho que escola militar seja a solução.
Acho que a gente já tem um número suficiente. Num universo de mil quinhentas e
sessenta, você ter 24, 25, como nós temos hoje, é de bom tamanho. Agora, se
você olha os resultados, acabou de sair o do Enem, eles detêm os melhores. Sai
o resultado do Ideb? Estão na lista das melhores. Porque o aluno tem hora de
estudar, aprende a fazer a tarefa. O professor é acompanhado de perto pela
orientação e coordenação pedagógica da escola. É um ambiente saudável. Algumas
pessoas que acham que a disciplina da escola militar é por medo de repressão e
não por educação, deveriam visitar algumas dessas escolas. Não há repressão.
Não é assim que isso acontece. Mas, é o respeito às posições contrárias. E,
como secretária, acho que a gente está com um número razoável. E deve crescer
um pouco, porque ainda há pedidos aprovados pela Assembleia Legislativa, mesmo
antes de eu chegar aqui, que na medida do possível, uma ou outra vai ser
implementada. Mas, acho que faz parte de um sistema plural, democrático, em as
famílias podem escolher o perfil de escola que querem para os seus filhos.
Em termos da
redução da violência no ambiente escolar, a sra avalia como uma medida eficaz?
Não acho que seja o caminho. É claro que nas
escolas militares há menos violência. Mas, não acho que a gente precise de
escola militar para combater violência na escola. Nós temos outras formas de
estimular a convivência pacífica que é através do respeito à diversidade. Já
lançamos essa semana um programa enorme que chama Repacificar, que é
especificamente de resolução de conflitos. Você pode evitar criar um conflito,
você tem etapas. Se você não evita e cria-se o conflito, você tem técnicas de
resolução do conflito que é através do que a gente chama de Sala Verde, que
estão sendo criadas nas escolas. Portanto, há vários caminhos para você chegar
num objetivo comum que é uma escola de boa convivência, onde se estimule a aprendizagem,
onde as pessoas se respeitam e se tratam com civilidade. Que é o objetivo de
qualquer escola, militar ou não.
Última
pergunta. A sra foi filiada ao PSDB e não está mais vinculada ao partido e nem
a nenhum outro. Foi deputada federal por oito anos. Pretende voltar a ter algum
vínculo com algum partido, retomar a carreira política?
Não, acho que eu já dei a minha contribuição. Foi
muito bom. Foi um período rico na minha vida. Mas, política agora só
educacional, cultural e esportiva (rs).
Entrevista realizada em agosto de 2015 para o jornal Tribuna do Planalto.
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